Política

Rui Tavares diz que PSD não está a dizer a "verdade toda" sobre alianças

Rui Tavares diz que PSD não está a dizer a "verdade toda" sobre alianças
MANUEL FERNANDO ARAUJO

Rui Tavares defendeu esta sexta-feira que é possível criar um centro de conhecimento em Portugal que permita aos agricultores usar a água de forma mais racional e usar menos pesticidas. Já sobre cenários políticos, o porta-voz do Livre diz que os cidadãos precisam de saber o que propõem os partidos quando forem votar

O porta-voz do Livre considerou hoje que o PSD "não está a dizer a verdade toda" em relação à maneira como encara a política de alianças e pede clareza, porque as pessoas quando vão votar "precisam de saber".

"A direita, e em particular o PSD, não nos está a dizer a verdade toda em relação à maneira como encaram a política de alianças, que é uma coisa fundamental em qualquer sociedade desenvolvida", disse hoje Rui Tavares. O dirigente do Livre falava aos jornalistas em Ponta Delgada, na ilha de São Miguel, à margem de um encontro com a Associação para a Promoção e Proteção Ambiental dos Açores, realizada nos jardins da Universidade, no âmbito da campanha para as eleições legislativas regionais, que decorrem no domingo.

Segundo Rui Tavares, "o natural, não é haver maiorias absolutas", mas sim "política de alianças". "Se nos dizem uma coisa na região, se nos dizem outra coisa a nível nacional e se Luís Montenegro [presidente do PSD] diz que 'bem, há princípios que eu admito que possam ser diferentes', peço desculpa. Os princípios dos partidos estão nos seus estatutos e nas suas cartas de princípios".

E prosseguiu: "Os [princípios] do PSD, que eu até já li, até já li quando André Ventura foi candidato pelo PSD em Loures, e qualquer pessoa que leia a Carta de Princípios do PSD, e se lembre do que André Ventura dizia na altura, como candidato do PSD, percebia uma coisa, 'não batia a bota com a perdigota'". "Aquelas palavras, aqueles discursos, não eram os que estavam enquadrados pelos princípios do PSD, que é um partido que é nosso adversário político, mas que respeitamos como um partido importante na democracia portuguesa. Ora, como é que os princípios mudam entre a região e o nacional? Onde é que estão a pensar dar o dito por não dito? É aqui ou é na República como um todo? E as pessoas quando vão votar precisam de saber", afirmou.

Rui Tavares lembrou que o Livre fala com clareza e diz, por exemplo, que se houver uma maioria à esquerda, será "parte da solução", e se houver uma maioria à direita, será "parte da oposição". "É necessária essa clareza, ainda para mais, de partidos que tencionam liderar governo ou regional ou nacional. Se não, é porque se estão a preparar para dar o dito por não dito em algum lugar, e isso, não é só o problema de enganar as pessoas, é que traz instabilidade a seguir, porque nunca serão soluções legitimadas", observou.

Tavares também referiu que o que se vê é "praticamente uma canibalização constante entre os partidos da direita, [que] querem devorar-se uns aos outros". "Seria de enorme incerteza qualquer governo sair dessa solução, porque não duraria muito tempo, porque, neste momento, a direita portuguesa, tanto ao nível regional como nacional, está numa situação de autofagia", alertou.

Considerou ainda "bastante intrigante" ver que a direita, tanto regional como nacional, "aparentemente com grande tranquilidade", dizer que "conversará com a extrema direita, que basicamente quer destruir o papel e o lugar da direita tradicional em Portugal e devorá-la". "É um bocadinho estranho ver a aparente satisfação e tranquilidade com que querem negociar acordos de governo com aqueles que apenas os querem destruir", rematou.

Evolução das políticas europeias para mais qualidade na agricultura

O Livre defendeu hoje a evolução das políticas europeias para a agricultura, apostando na qualidade e em ajudar as pequenas e médias explorações agrícolas a terem uma maior rendibilidade.

"Achamos que as políticas europeias na agricultura devem evoluir. (...) Devemos investir cada vez mais através de políticas europeias e nacionais numa agricultura de precisão e não numa agricultura intensiva, que se distinga pela qualidade e não pela quantidade e que ajude as pequenas e médias explorações -- muitas delas de base familiar -- a não estarem sempre na linha da água da sustentabilidade", salientou o porta-voz do partido Rui Tavares.

O deputado único do Livre, que falava aos jornalistas à margem de uma visita à União Zoófila em Lisboa, considerou que a conjuntura não é a mesma da primeira política agrícola comum (PAC), quando foi introduzida em 1962, "para a produção em massa, para o controlo de preços e para a subsidiação massiva da agricultura europeia".

"Nós podemos dar um caminho de esperança a muitos agricultores em Portugal, nomeadamente aqueles que têm mais dificuldade em chegar aos grandes subsídios, em fazer face às regulações mais complicadas, em adquirir maquinaria ou em ter seguros que os cubram em casos de catástrofes naturais", salientou.

Destacando que Portugal é "um país de pequenas e médias empresas", Rui Tavares disse apoiar a criação de um centro nacional de transferência de conhecimento para gerir melhor a agricultura nacional, utilizando a água de forma mais racional, menos pesticidas, menos adubos químicos e trabalhando mais com a fertilização natural.

"É preciso haver um caminho no Ministério da Agricultura de um próximo governo que traga estas soluções para cima da mesa dos agricultores e eu creio que esse é um diálogo muito profícuo que se pode fazer", sustentou.

O Governo avançou com um pacote de ajuda de mais de 400 milhões de euros destinados a mitigar o impacto provocado pela seca e a reforçar o Plano Estratégico da Política Agrícola Comum (PEPAC), garantindo que a maior parte das medidas entra em vigor este mês, com exceção das que estão dependentes de 'luz verde' de Bruxelas.

A Comissão Europeia vai preparar uma proposta para a redução de encargos administrativos dos agricultores, que será debatida pelos 27 Estados-membros em 26 de fevereiro.

Os protestos dos agricultores portugueses são organizados pelo Movimento Civil de Agricultores, que se juntou às manifestações que têm ocorrido em outros países europeus, incluindo França, Grécia, Itália, Bélgica, Alemanha e Espanha.

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