Marques Mendes: campanha de Israel contra Guterres é “exagerada” e “sem sentido”
O comentador da SIC considera que as reações de Israel às declarações do Secretário-Geral da ONU são “exageradas”, “sem sentido” e "desporporcionadas". Contudo, defende que “frase polémica” de Guterres “não é feliz”
Com o conflito entre Israel e o Hamas no centro das preocupações internacionais, Luís Marques Mendes falou numa “situação cada vez mais difícil” com a guerra a entrar numa segunda fase que antecede a incursão terrestre. Antes de abordar os mais recentes desenvolvimentos, o comentador da SIC falou neste domingo, no espaço habitual de comentário, do discurso do Secretário-Geral das Nações Unidas que espoletou a fúria dos políticos israelitas - que pediram a demissão de António Guterres.
“Nada justifica esta campanha completamente exagerada e desproporcionada de Israel contra Guterres”, disse no espaço de comentário no “Jornal da Noite”. Ao mesmo tempo, Marques Mendes considerou a “frase polémica” dita pelo Secretário-Geral da ONU (“os abusos do Hamas não surgiram do nada”) como “nada feliz”. “Pode dar uma ideia, ainda que errada, que está a legitimar este ato terrorista. Se voltasse atrás, António Guterres repetiria tudo, mas retiraria esta frase”.
Ainda assim, Marques Mendes acusou Israel de avançar com uma “campanha” contra António Guterres “exagerada” e de uma "arrogância e de um fundamentalismo inaceitáveis”. “Lendo o discurso na íntegra, vê-se muito bem que António Guterres não só não legitimou o Hamas como condenou veementemente a sua ação”, defendeu.
O conselheiro de Estado não colocou em causa o “direito de retaliação” de Israel, mas considerou a atitude do Governo israelita como “inaceitável”. Os anos de governação de Benjamin Netanyahu, disse Marques Mendes, cultivaram um “padrão negativo” e a ideia de que a elite israelita está “acima de tudo e até do direito internacional”. Após as declarações de António Guterres, o embaixador de Israel não só pediu a sua demissão como, este domingo, deixou um apelo para que os países deixassem de financiar a ONU.
Marques Mendes deixou ainda uma nota negativa sobre a divisão da União Europeia (UE) demonstrada na votação da trégua humanitária. “Foi cada um para seu lado. A UE é cada vez mais um anão político”. E elogiou a ação de Joe Biden na moderação do conflito. “Tem sido uma atitude exemplar”, atirou.
Saída de Pizarro é “exagero” apesar de crise na saúde, Orçamento “ao centro” e veto “benigno” de Marcelo na TAP
No olhar para dentro do país, Marques Mendes voltou a reafirmar que o acordo entre o Governo e os médicos irá acontecer “nos próximos dias”. Este entendimento seria “politicamente bom para todos”, já que traria “tranquilidade” ao setor da saúde, seria “justo” para os médicos e ainda seria uma “vitória” para o executivo socialista.
Face às sucessivas falhas nos acordos entre o Ministério da Saúde e os profissionais do setor, o ministro Manuel Pizarro tem sofrido várias críticas. Contudo, uma saída do executivo de António Costa é “um exagero”, considerou Marques Mendes. O comentador da SIC lembrou que o ministro da Saúde tem um “grande peso político” junto do primeiro-ministro e defendeu que este só sairá do Governo para se tornar candidato à Câmara Municipal do Porto, nas eleições autárquicas de 2025.
Sobre o Orçamento do Estado (OE), que começará a ser debatido nesta segunda-feira, Marques Mendes disse que o documento está “ao centro”, o que dificulta a vida à direita. Enquanto os partidos à esquerda do PS podem criticar a manutenção do excedente orçamental, a direita perdeu a bandeira do alívio fiscal. Um dos temas que estará em cima da mesa durante os debates orçamentais, garantiu o comentador, será a medida de aumento do Imposto Único de Circulação (IUC) para carros com matrículas anteriores a 2007. Com quase 400 mil assinaturas na petição contra o agravamento do imposto, o Governo deverá alterar na especialidade, disse.
Além disso, há outros quatro problemas que deverão ser utilizados pela oposição: a execução do investimento público, os resultados na saúde, a emigração de jovens talentos e a crise da habitação.
Outra das notícias que ganhou destaque no final da semana foi o veto de Marcelo Rebelo de Sousa ao diploma do Governo sobre a privatização da TAP. Um veto “benigno”, disse Marques Mendes, que não vem impedir a venda da companhia aérea, mas exige que esta decorra com “transparência” e “sem suspeições”. O conselheiro de Estado deixou duas sugestões ao Governo para que as preocupações do presidente da República sejam esvaziadas: um “mecanismo de controle e escrutínio” da venda da TAP e um “modelo de registos oficiais de todos os contactos feitos” durante o processo de privatização para que não existam “suspeitas de favorecimento” no futuro.
Logo após o anúncio do veto presidencial, António Costa garantiu que as questões levantadas por Marcelo seriam “devidamente ponderadas”. Com as relações entre Belém e São Bento ainda tremidas, resta saber de que forma o executivo socialista terá em conta as palavras do chefe de Estado e se irá incorporar alguma das propostas do comentador social-democrata.