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Nesta data, há 50 anos, os capitães arrancaram clandestinos rumo a Abril. E foi assim:

Desenhado por Diniz de Almeida, o croqui com indicações para os militares chegarem ao Monte do Sobral
Desenhado por Diniz de Almeida, o croqui com indicações para os militares chegarem ao Monte do Sobral

Faz este sábado 50 anos, 136 militares reuniram-se em oposição às leis do Estado Novo. O primeiro passo formal do movimento dos capitães

Nesta data, há 50 anos, os capitães arrancaram clandestinos rumo a Abril. E foi assim:

Filipe Garcia

Editor-adjunto de Política

“Se é para uma revolução, não é por mim que não se faz”, respondeu Celestino Garcia, ao genro, José Manuel Carrilho Leitão, que lhe pedia o Monte do Sobral, em Alcáçovas, para uma reunião que se queria tão grande quanto discreta. Então apenas estudante de Medicina, tinha sido desafiado pelo primo direito Eduardo Diniz de Almeida, militar que haveria de ficar famoso como capitão de abril, a juntar-se a um movimento que ainda mal dava os primeiros passos. “Sabia que havia um descontentamento generalizado, por causa dos decretos e que alguns militares na Guiné já tinham feito reivindicações às instâncias militares superiores”, conta ao Expresso o hoje coronel, recordando a negociação com o sogro, agricultor e rendeiro da herdade que ficaria na história. “Era um homem com ideias avançadas para a época. Já tinha recebido republicanos durante a guerra de Espanha”, diz, lembrando os preparativos que antecederam a reunião de Alcáçovas, a 9 de setembro de 1973, hoje vista como o pontapé de saída, em território nacional, do movimento dos capitães.

Com dois decretos-lei, aprovados em julho e agosto, que substituíam os quatro anos de formação na Academia Militar por apenas dois semestres para a entrada nas Forças Armadas, a agitação entre militares estava instalada. “136 militares reunidos não é coisa que nasça do nada, havia antecedentes importantes”, contextualiza Carvalho Leitão. E por trás, na preparação da reunião, já estava um núcleo duro de militares com objetivos bem mais ambiciosos. “O maior grupo estava ali por questões corporativas, de contestação ao decreto, depois os ‘maria vai com as outras’ que lá estavam porque algum amigo os levava e ainda um grupo que via ali uma oportunidade de ouro para contestar o regime e encontrar uma solução para a guerra”, conta ao Expresso Vasco Lourenço, um dos principais promotores do encontro. Longe, na Guiné, a agitação já subira de tom.

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