Metade dos diplomatas faria greve às horas extraordinárias. Marcelo quer rapidez na revisão do estatuto da carreira. 91% consideram que o salário não é adequado quando estão em Portugal e 64% têm dificuldade em pagar casa quando regressam a Lisboa.
A realidade do quotidiano está a embaciar o glamour da vida diplomática, alimentado pelo imaginário popular ao longo dos anos. A vida nas embaixadas e consulados não se resume à alta política, nem às receções chiques, nem aos contactos com gente interessante ou poderosa por esse mundo fora. A vida concreta dos diplomatas portugueses é menos encantadora: a tabela salarial não é revista há 25 anos, o salário torna-se insustentável quando regressam a Portugal, os cônjuges, na maior parte dos casos, não têm rendimento (e a família depende apenas de um salário), o subsídio de habitação nos postos não contempla o número de filhos e o seguro de saúde é irrelevante fora da União Europeia. A insatisfação está a alastrar de tal forma que, num questionário realizado pela Associação Sindical dos Diplomatas Portugueses (ASDP), uma parte significativa dos inquiridos admite o recurso à greve ou a participação em protestos: 45% dos diplomatas aceitariam associar-se a uma greve do Sindicato dos Trabalhadores Consulares por melhores condições nos postos; 85% participariam num protesto escrito para apresentar ao ministro dos Negócios Estrangeiros; e 53% consideram a possibilidade de se juntarem a um protesto público.
Com o estatuto da carreira diplomática por atualizar e com a tabela remuneratória por rever desde 1998, a ASDP enviou um questionário aos associados (realizado entre 29 de junho e 9 de julho) para medir as frustrações e expectativas e avaliar propostas para negociar com o ministro João Gomes Cravinho. O próprio Presidente da República está atento e gostava de ver maior rapidez na revisão do estatuto por parte do ministro, apurou o Expresso junto de fonte próxima de Marcelo Rebelo de Sousa. Joana Gaspar, presidente da ASDP, diz que o ministério já abriu “uma mesa negocial com os trabalhadores dos serviços periféricos externos e dos centros culturais, mas não com os diplomatas”. Espera que Gomes Cravinho o faça “depois das férias”. E admite “a greve como possibilidade”, algo inédito em Portugal e mesmo rara no estrangeiro, que só aconteceu recentemente com franceses, malteses, gregos e italianos.
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