Jornadas do PS na Madeira acompanhadas à distância: metade dos deputados falha voo
HOMEM DE GOUVEIA/Lusa
O PS tem 120 deputados eleitos para a Assembleia da República, mas só pouco mais de 60 conseguiram aterrar no aeroporto do Funchal para as jornadas parlamentares. Muitos falharam intervenção de António Costa, onde o líder do PS atirou ao PSD e fez juras ao cumprimento do mandato
Com eleições regionais na Madeira à porta e a meio do psicodrama sobre se o primeiro-ministro pretende ou não ir para um alto cargo europeu daqui a um ano, o PS está até terça-feira no Funchal a realizar jornadas parlamentares, mas apenas com metade da bancada parlamentar no terreno. Em causa está a situação meteorológica da Madeira, com ventos fortes, que levou ao cancelamento de dezenas de voos nos últimos dias.
Ao que o Expresso apurou junto da bancada parlamentar socialista, um total de 27 deputados, incluindo o líder parlamentar, aterraram no Funchal ainda na sexta-feira, antes de começarem as perturbações meteorológicas, e outros 35 conseguiram aterrar já perto da meia noite de domingo, tendo falhado a intervenção de António Costa marcada para a hora de jantar. Segundo a ANA aeroportos, citada pela agência Lusa, só quatro aviões conseguiram aterrar no domingo depois do cancelamento de mais de 50 voos para o Funchal. Os ventos fortes estão previstos até quinta-feira.
Na sequência do imprevisto, o grupo parlamentar do PS teve de reajustar o programa das jornadas parlamentares e transmitir parte das intervenções por streaming. Foi o que aconteceu com a intervenção do secretário-geral e primeiro-ministro este domingo à noite, e é o que vai acontecer com o jantar desta noite com a presença do presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, que já está na Madeira, e com a sessão de encerramento na terça-feira de manhã, que contará com a presença da ministra Adjunta Ana Catarina Mendes, da ministra do Trabalho Ana Mendes Godinho, do ministro da Economia, António Costa Silva e do ex-secretário-geral da UGT Carlos Silva.
Já as visitas que decorreram durante esta manhã pelas empresas, instituições e municípios da região tiveram de ser “redimensionadas” para acomodar o facto de metade dos deputados não estarem presentes. O líder parlamentar socialista, Eurico Brilhante Dias, esteve esta manhã a visitar projetos co-financiamentos pelo Orçamento do Estado da República, desde uma associação de apoio a vítimas de violência doméstica à obra do novo Hospital Central da Madeira, passando também pela visita ao ponto de amarração de um cabo submarino de telecomunicações, que liga a América Latina à Europa, e que, segundo disse Eurico Brilhante Dias aos jornalistas, tratou-se de um “grande investimento direto estrangeiro captado pela República” com vista a “gerar novos empregos e melhores salários diversificando a atividade económica na Madeira”.
Questionado sobre o facto de António Costa ter dito ao jornal Público que se vê a si próprio como “garante de estabilidade” e que, nesse sentido, não aceitaria nenhuma “missão” que pusesse em causa essa estabilidade - nomeadamente uma interrupção do mandato a meio para aceitar um alto cargo europeu em 2024 -, Eurico Brilhante Dias reforçou a ideia de que o projeto político que deu ao PS uma maioria absoluta em janeiro continua em curso até 2026. Ou seja, é esse o mandato que Costa, pessoalmente, tem em mãos.
Em causa estão as notícias dos últimos dias que dão conta de que Bruxelas irá pressionar o primeiro-ministro português a presidir ao Conselho Europeu caso os socialistas europeus, na distribuição de lugares pós-eleições, fiquem com esse lugar em mãos. “Alguma vez eu poria em causa a estabilidade que tão dificilmente conquistei?”, atirou António Costa em declarações ao Público esta segunda-feira.
Para o líder parlamentar socialista, a declaração de Costa é apenas a “confirmação de algo que é evidente”. “O PS e em particular o primeiro-ministro sempre foram a estabilidade e o garante da continuidade de políticas; temos um projeto político sufragado até 2026 e é isso que estamos a fazer”, disse, repetindo ainda a ideia de que a estabilidade “está muito relacionada” com a pessoa do primeiro-ministro. Certo é que Marcelo Rebelo de Sousa disse desde o dia em que deu posse ao novo governo de maioria absoluta que aquele resultado eleitoral vinculava o próprio António Costa ao cumprimento do mandato, sem qualquer saída a meio para eventuais cargos europeus que viessem a surgir. Se o fizesse, Marcelo deixou claro que teria de convocar eleições - e não faria o que Sampaio fez quando Durão Barroso foi para a Comissão Europeia, entregando o governo a um sucessor interno, Pedro Santana Lopes.
No jantar perante os militantes do PS na Madeira, António Costa voltou a sublinhar que está amarrado ao programa eleitoral que lhe deu a maioria absoluta. Trata-se de “um programa para quatro anos” e “esse programa é o nosso compromisso”, disse, procurando esvaziar a ideia de que pretende sair para Bruxelas daqui a um ano. Em vez disso, Costa manteve a mira apontada ao PSD, lembrando que este PSD tem o mesmo “guru” económico que o anterior PSD de Rui Rio, e era esse “guru” económico, Joaquim Miranda Sarmento, que na última campanha eleitoral defendia uma prioridade para a baixa de IRC para as empresas em vez da baixa de IRS para as famílias. “Estão a dar o dito pelo não dito”, disse o líder do PS, antevendo comentando o pacote de baixa de impostos que o PSD se prepara para apresentar.