Com uma sala bem recheada, no Hotel Dona Maria, na Covilhã, Paulo Raimundo, líder do PCP, saiu em defesa do Interior e atirou-se à direita na sua única intervenção durante as Jornadas Parlamentares do PCP, que decorrem esta segunda e terça-feira. “É importante deixar bem claro que a desertificação e o défice demográfico não são inevitáveis, é necessário criar as condições para as pessoas viverem no Interior”, arrancou o líder comunista num discurso que não durou mais de 15 minutos.
O desinvestimento em “serviços públicos”, resultado de uma “política de direita”, é uma das principais razões para a perda de população do Interior do país. “Recusamos o pressuposto de que o Interior está condenado. Não está e não aceitamos que o condenem”, reiterou Paulo Raimundo. Nestes dois dias, vários elementos do grupo parlamentar vão visitar populações afetadas pelos incêndios, sindicatos de trabalhadores e empresas de indústria têxtil. O objetivo é “contactar com a realidade concreta” dos distritos de Castelo Branco e da Guarda, clarificou Paula Santos, no discurso que antecedeu a Paulo Raimundo.
“Se o caminho é a desindustrialização, cortes nos apoios à agricultura familiar, encerramento de escolas, maternidades e extensões de saúde, postos da GNR, estações e postos dos CTT, eliminação de freguesias e o consequente afastamento entre os órgãos eleitos e a população, manutenção das portagens, redução e eliminação de carreiras rodoviárias, falta de investimento na ferrovia, de que servem as lágrimas de crocodilo e os lamentos hipócritas pela desertificação?”, atirou também em direção ao Governo socialista.
Para o líder comunista, uma das formas de garantir a fixação de população nesta região passa pela “regionalização” e pelas “regiões administrativas”. “Que se avance, de uma vez por todas, com a regionalização, em vez de se transferirem para as autarquias locais encargos em áreas de competências que cabe ao Estado assegurar”. Além disso, Paulo Raimundo defendeu mais “investimento” no SNS, na “escola pública”, na “ciência e na investigação” e na “agricultura e nos agricultores”. Neste setor, o líder comunista acusa o PS de “prosseguir” com políticas que causaram a “redução dos rendimentos dos agricultores” em “11,2% em 2022” e o “agravamento do défice da balança agroalimentar em 50%”.
Com a ondas de calor a chegar a Portugal já na próxima semana, outro dos temas em destaque destas jornadas comunistas são os incêndios. Paulo Raimundo lembrou o “Programa de Emergência para a Serra da Estrela”, proposto pelo PCP, que pretendia o “planeamento” e “gestão adequada” do território integrado no Parque Natural da Serra da Estrela e o reforço da “prevenção” e “combate a incêndios florestais”. A proposta foi rejeitada por PS, PSD, IL e PAN num alinhamento “como os astros”, ironizou Paulo Raimundo. O líder comunista lembrou também o “Plano Nacional para a Prevenção Estrutural dos Efeitos da Seca”, outra proposta pelo caminho com votos contra do PS e IL e abstenção do PSD e PAN.
Entre as atividades do grupo parlamentar na zona da Serra da Estrela, está planeada uma visita à população afetada pelos incêndios do ano passado, na Guarda, na tarde desta segunda-feira. A líder parlamentar Paula Santos e os deputados Duarte Dias e António Filipe são alguns dos nomes comunistas que irão estar presentes.
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