“Quis ajudar a vida dessa pessoa”. Foi assim que Manuel Pizarro, ministro da Saúde, reagiu hoje ao facto de ser suspeito num processo que investiga eventuais crimes de prevaricação e abuso de poder. O governante, que não é arguido no processo, garantiu esta sexta-feira que não foi contactado pelas autoridades e assume ter intervindo num caso em que tentou ajudar um candidato autárquico do PS a mudar da Câmara de Gondomar para a Câmara de Vila Nova de Gaia, presidida por Eduardo Vítor Rodrigues, que, segundo o Observador, é suspeito de corrupção num dos três processos que fazem parte da Operação Babel.
O envolvimento do ministro da Saúde, noticiado pelo Público e pela RTP, deve-se a um pedido ao presidente da câmara gaiense para arranjar uma colocação para António Oliveira, candidato socialista à Junta de Freguesia de Vitória. De acordo com o despacho do Ministério Público (MP), a que o Expresso teve acesso, o pedido de Manuel Pizarro, que na altura era eurodeputado socialista, levou a que a Câmara de Gaia “abrisse procedimento concursal” para satisfazer “a sua pretensão” e passasse a exercer “funções de técnico superior”, cargo que “não tinha” na Câmara de Gondomar.
Para o ministro, o procedimento foi “normal” porque “não” pediu “tratamento de exceção”. Ainda segundo o MP, a edilidade de Gaia “não tinha necessidade” daquele funcionário e estarão em causa crimes de “abuso de poder e prevaricação” que poderão ser imputados não só a Eduardo Vítor Rodrigues, mas também a Manuel Pizarro.
Rodrigues suspeito com a ajuda do Governo
Ainda de acordo com o Observador, o presidente da Câmara de Gaia é arguido num dos processos que faz parte da Operação Babel, que também tem como visado o vice-presidente Patrocínio Azevedo. Eduardo Vítor Rodrigues é arguido por corrupção, abuso de poder e prevaricação. O autarca terá tido a ajuda de Jorge Botelho, atual deputado do PS e ex-secretário de Estado, para evitar a perda do mandado em 2016 depois de ter violado um contrato com o Estado ao não aumentar o IMI depois de ter conseguido um empréstimo para pagar as dívidas da Câmara de Gaia.
Segundo as suspeitas do MP, Rodrigues terá esvaziado uma sentença de perda de mandato por parte de um tribunal ao convencer Jorge Botelho a não homologar um relatório da Inspeção Geral das Finanças que certificava que tinha violado o acordo com o Estado. O autarca foi reeleito e a sentença acabou mesmo por perder eficácia porque só se referia ao mandato anterior.
O presidente da Câmara de Gaia terá consentido que o Conselho de Administração da GAIURB “de modo arbitrário”, “sem qualquer requisição de despesa” realizasse contratos públicos com o grupo Global Media (onde se incluem o “DN”, “JN” e TSD).
Eduardo Vítor Rodrigues terá pedido a vogal do conselho de administração da empresa que os os jornais e rádio que pertencem ao grupo elaborassem notícias e cobrissem conferências promovendo a atuação da autarquia de Gaia e do seu presidente.
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