Política

Marcelo avisa Costa: caso Galamba é “muito sensível” e “alguma boa economia pode não ser suficiente”

Marcelo avisa Costa: caso Galamba é “muito sensível” e “alguma boa economia pode não ser suficiente”
NUNO VEIGA

"Em determinados temas particularmente sensíveis o seu tratamento não é na praça pública, não é sob os holofotes da comunicação social”, disse o presidente da República aos jornalistas esta manhã

Marcelo Rebelo de Sousa considerou que a troca de acusações entre o ministro das Infraestruturas, João Galamba, e o seu antigo adjunto, Frederico Pinheiro, é um tema que “não pode ser tratado na praça pública”, classificando-o como uma matéria sensível de Estado.

“Aquilo que eu disse ontem era que em determinados temas particularmente sensíveis o seu tratamento não é na praça pública, não é sob os holofotes da comunicação social”, disse o presidente da República esta segunda-feira, 1 de maio, em declarações aos jornalistas.

“Matérias muito sensíveis de Estado são tratados muito discretamente”, acrescentou, e “tratando-se de matéria sensível de relevância nacional (…) não tenho mais nada a acrescentar”.

São assuntos que “vão ser tratados até ao momento em que se vê que foram tratados (…) as coisas sucedem, vão sucedendo, e depois verifica-se que sucederam”, resumiu o chefe de Estado, que comparou o tratamento do "caso Galamba" a outras situações de relevância nacional.

“Estes casos normalmente são discretos. Matérias muito sensíveis de Estado são discretas, são tratadas discretamente (…) Noutros tempos, quando havia desvalorizações ou revalorizações do escudo, era discreto. Os antecedentes de decisões como as respeitantes ao estado de emergência ou à renovação, eram discretas. Questões que dizem respeito a dossiers importantes económicos e políticos (…) as intervenções são discretas”, elencou.

“Tratando-se de uma matéria sensível, de relevância nacional, o tratamento tinha de ser discreto”, resumiu.

Marcelo deixou ainda um recado ao primeiro-ministro, António Costa, ao dizer que “sem boa economia é difícil haver boa política. Mas haver alguma boa economia pode não ser suficiente para haver boa política”.

O Presidente falou aos jornalistas esta segunda-feira, 1º de maio, a meio de um percurso conduzido pelo historiador Pacheco Pereira, mostrando as exposições que a sua associação Ephemera está a inaugurar em Lisboa e no Barreiro sobre o Dia do Trabalhador.

A visita conta também com três ministros do Governo de António Costa: Ana Catarina Mendes, Pedro Adão e Silva e Ana Mendes Godinho seguem na comitiva ao lado do Presidente. Mas até falar com os jornalistas, todos na comitiva anotaram o raro silêncio do Presidente: poucos comentários, nenhum sorriso na expressão, pouca interação.

Nos últimos três dias, o Presidente manteve um prudente silêncio sobre os factos que vieram a público, seja o episódio de violência dentro do Ministério da Infraestruturas, sejam as contradições evidentes entre a versão de João Galamba e do seu ex-assessor (que acusa o ministro de ter tentado esconder documentos da Comissão de Inquérito da TAP), seja mesmo da inusitada intervenção do SIS para recuperar o computador do ex-adjunto.

Ao falar aos jornalistas, Marcelo recusou responder sobre a chamada do SIS - que Galamba confirmou, envolvendo o gabinete do primeiro-ministro e da ministra da Justiça. Mas também sobre o próprio ministro das Infraestruturas, que quando foi nomeado Marcelo disse ser uma escolha que responsabilizaria António Costa.

Silêncio “dramático” do presidente

Marcelo mantém, assim, o silêncio em torno deste caso - que já foi interpretado pelo conselheiro de Estado António Lobo Xavier, no domingo à noite, no programa Princípio da Incerteza, na CNN, como tendo um peso particular. Atribuo uma certa dramaticidade ao silencio do Presidente. Quando um Presidente que vive da palavra está em silêncio, isso quer dizer alguma coisa (…) Nenhuma pessoa sensata imagina com tranquilidade um Governo com estar marca original a governar quatro anos".

Marques Mendes, também conselheiro de Estado, Marques Mendes, dizia no domingo na SIC que “o Presidente não deve lançar a bomba atómica” da dissolução do Parlamento e apontava o caminho da remodelação.

Com o resto do Governo em absoluto silêncio sobre o caso, a única voz que se ouviu foi a da ministra da Segurança Social, que foi esta segunda-feira à CNN Portugal falar sobre o 1º de Maio e teve de responder a uma pergunta. Mas limitou-se a dizer isto: "Todos os dias são dias de missão. Temos procurado responder em cada momento, independentemente das situações atípicas que temos vivido, tentando que não nos desvie do foco de responder à emergência e ao estrutural. Que algumas situações, de maior ou menor gravidade, não nos desviem do foco de missão e serviço ao país."

Do lado do PS, Sérgio Sousa Pinto falou no domingo, também na CNN. E não foi meigo para o Governo: "Não se pode ativar os serviços de informação porque uma chefe de gabinete telefona a alguém dos serviços de informação. Isto é gravíssimo e tem de ser esclarecido. Denota uma degradação institucional do país. Que falta de discernimento e de sentido de equilíbrio" levou a isto? - perguntou na CNN.

A ex-ministra socialista Alexandra Leitão disse, na CNN no domingo - mostrando-se “estupefacta” com o tratamento do caso pelo ministro das Infraestruturas - que “é preciso dar explicações neste caso”, apesar de considerar que "não há aqui ainda uma justificação para dissolução”. A solução passa por, talvez, “mudar procedimentos internos, pode ser remodelar, pode ser mudar a orgânica interna do governo, que é uma prerrogativa do primeiro-ministro.”

Disse ainda que uma remodelação, porém, “só vale a pena se for para mudar perfis, fazer um reset, um reinício”, avançou; e que “apesar dos ótimos resultados económicos”, o Executivo "não recuperou dos primeiros meses".

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