Exclusivo

Política

O estudante André vs. o líder Ventura: um problema de "credibilidade política" e "integridade académica" (4.º ep. de Entre Deus e o Diabo)

O estudante André vs. o líder Ventura: um problema de "credibilidade política" e "integridade académica" (4.º ep. de Entre Deus e o Diabo)

O líder do Chega tem posições totalmente contraditórias com aquilo que o André Ventura académico escreveu na sua tese de doutoramento. Esta semana, com o duplo homicídio no Centro Ismaelita de Lisboa, voltou a contrariar o texto com o qual adquiriu o título de Professor Doutor. No 4º episódio do podcast “Entre Deus e o Diabo”, a constitucionalista Teresa Violante explica que quem o faz compromete a “credibilidade política” e a “integridade académica”. Oiça aqui em exclusivo

O líder do Chega tem posições políticas que violam a ciência jurídica produzida por André Ventura enquanto académico na sua tese de doutoramento sobre terrorismo e segurança. Com o duplo homicídio no Centro Ismaelita de Lisboa, esta semana, Ventura voltou a contrariar o texto com que adquiriu o título de professor doutor na Irlanda. No 4º episódio do podcast “Entre Deus e o Diabo” (que pode ouvir em baixo), a constitucionalista Teresa Vio­lante explica que quem diz uma coisa na investigação e o contrário no espaço público compromete a sua “credibilidade política” e a “integridade académica”.

Neste episódio - onde se analisa o contraste entre as posições do líder e as do universitário -, os amigos do estudante recordam-no como “moderado” e "progressista", que defendia posições liberais e laicas. Até confessou ter consumido drogas. Quando fez Erasmus em Salamanca, estava limitado pelos padres dehonianos que o alojavam. Mais tarde, quando foi fazer o estágio, no Porto, os colegas do escritório de advogados encontraram-no quase morto na cama...

Depois de ter sido o único líder a fazer um aproveitamento político dos crimes cometidos por um refugiado afegão, acentuaram-se as contradições com o que defendeu na sua tese de doutoramento: que a comunidade muçulmana estava a ser discriminada por “pânico moral” pela legislação pós-11 de setembro.

André Ventura defende-se dizendo que uma coisa é a “ciência” e outra a sua “opinião” política". Mas para a constitucionalista Teresa Violante, investigadora na Universidade de Erlangen-Nuremberg e professora na Universidade Lusófona, isto “não é muito normal”.

Segundo a jurista, “cada um tem toda a liberdade de ter as suas posições académicas e intelectuais e depois eventualmente seguir uma orientação política ou ideológica que eventualmente não seja totalmente coerente com essas posições académicas e intelectuais." O problema é que isso tem um custo: “A questão é que esse tipo de via pode colocar em causa a credibilidade política, de quem toma essas atitudes e isso pode afetar essa pessoa junto dos seus pares políticos e junto do eleitorado”, diz em declarações ao podcast “Ente Deus e o Diabo”. “Onde vejo mais problemas é que esse tipo de opções pode afetar a integridade académica de quem toma esses percursos”.

Teresa Violante explica que o chamado scholl activism que passa por os intelectuais terem “ter uma vida pública afastada da academia” é um aspeto “muito discutido na academia”. Hoje, é cada vez mais discutido, “porque cada vez mais académicos que se envolvem em temas com relevância política e em debates políticos”, diz a constitucionalista. “Aliás, o próprio envolvimento de académicos no debate político, mesmo sem desconexão de posições, já em si é suscetível de afetar a integridade da obra académica. Pode haver essa contaminação.”

“Mas quando existe esta desconexão, essa possibilidade de quebra de integridade académica é muito maior”, diz a especialista. Ou seja, a integridade académica de André Ventura, o jurista, está comprometida.

“Nesse caso tenho poucas dúvidas”, diz Teresa Violante. “Em termos de vida académica, o professor André Ventura fez opções que terão um impacto: se ele regressar à academia, terá de lidar com isso. É uma avaliação que será feita pelos pares, porque na vida académica há esse filtro”. No caso da opinião pública é diferente: nada garante que essa contradição seja penalizadora.

Artigo Exclusivo para assinantes

Assine já por apenas 1,63€ por semana.

Já é Assinante?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para continuar a ler

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: jlamorim@expresso.impresa.pt

Comentários

Assine e junte-se ao novo fórum de comentários

Conheça a opinião de outros assinantes do Expresso e as respostas dos nossos jornalistas. Exclusivo para assinantes

Já é Assinante?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate
+ Vistas