Política

Cimeira Ibero-Americana: Marcelo defende que é preciso "recuperar o multilateralismo", Costa pede apoio ao secretário-geral da ONU

Presidente da República Dominicana Luis Abinader recebe o seu homólogo português Marcelo Rebelo de Sousa
Presidente da República Dominicana Luis Abinader recebe o seu homólogo português Marcelo Rebelo de Sousa
ORLANDO BARRIA/EPA

Em Santo Domingo, o chefe de Estado português considerou que este e o próximo ano serão "decisivos" para o fim da guerra na Ucrânia, a construção da paz e a recuperação das economias. Já o primeiro-ministro alertou para a necessidade de “combater as desigualdades” no mundo, pedindo apoio a António Guterres

O Presidente da República considerou este sábado que a guerra na Ucrânia é “global” e que este e o próximo ano serão “decisivos”, sendo vital “recuperar o multilateralismo” na 28.ª Cimeira Ibero-Americana, em Santo Domingo, na República Dominicana.

“Não é uma guerra europeia, é uma guerra global, que resulta de uma invasão por parte de uma potência mundial de um país vizinho, que intervém depois com ajudas diretas e indiretas por parte das potências mundiais. É global, porque provocou e provoca efeitos económicos, financeiros e sociais”, declarou Marcelo Rebelo de Sousa durante uma intervenção na cimeira centrada no conflito no país europeu.

Afirmando que quem “mais perde” com a guerra e as pandemias são sempre os mais pobres, o chefe de Estado português sinalizou os efeitos nefastos com a “aceleração" da inflação, o aumento custo da energia, o aumento do preço dos alimentos e o “sofrimento para os povos mais pobres” e "dentro de cada povo os mais pobres dos pobres”.

A cimeira, sublinhou, enquadra-se num momento de “viragem geopolítica no mundo” em que há “potências mundiais”, outras que “passam a regionais” e “novas potências globais”. "Vai ser um mundo muito diferente do mundo que nasceu no final do século XX", antecipou.

Defendendo que o momento atual é de “grande responsabilidade”, Marcelo admitiu que 2023 e 2024 vão ser “anos decisivos para a construção da paz e para a saída da guerra, para a construção da paz na Ucrânia e noutros pontos do mundo, assim como para a construção das economias, luta pela justiça social, correção de desigualdades e para a afirmação do multilateralismo”.

O mundo é “multipolar”, contudo, nos últimos tempos deixou de ser multilateral. “ Temos que recuperar o multilateralismo”, sustentou, perante representantes dos 22 países da comunidade ibero-americana, acrescentando que a Ibero-América é uma “força de paz” e tem um “papel único” a desempenhar no mundo em mudança. “É mais importante do que nunca reafirmar o direito internacional, as organizações internacionais, os grandes princípios, aqueles que permitem, como o multilateralismo, ultrapassar o unilateralismo, o protecionismo e o isolamento”, reforçou.

Transição energética e acordo comercial com Mercosul

Já o primeiro-ministro alertou para a importância do combate às desigualdades no mundo, apelando ao apoio ao secretário-geral das Nações Unidas (ONU). António Guterres. Fazendo jus ao lema da cimeira "Juntos por uma Ibero-América justa e sustentável", António Costa realçou o “papel fundamental” do organismo para reforçar também a segurança alimentar.

“E muito importante apoiar o trabalho do secretário-geral da ONU, António Guterres, na campanha que lançou para a reforma do sistema financeiro internacional”, advogou, considerando que face à falta de recursos e desigualdades é preciso mobilizar os recursos que existem nas instituições financeiras mundiais para a “devida utilização”.

Costa pediu também apoio ao diretor-geral da Organização Internacional para as Migrações (OIM), António Vitorino, para responder ao fenómeno das migrações na Europa e na América Latina. A nível do comércio internacional, o PM português voltou a afirmar que é com “enorme expectativa” e “confiança” que espera que a presidência espanhola do Conselho Europeu (CE), no segundo semestre, consiga finalmente fechar o acordo comercial entre a União Europeia (UE) e os países do Mercosul. “O maior custo estamos todos a pagar por não termos o acordo entre a UE e o Mercosul”, advertiu ainda.

Sobre a energia, Costa defendeu que os países países da comunidade ibero-americana devem formar uma “grande aliança” para a transição energética, apontando para as
as “maiores reservas do mundo” de lítio na América Latina, e em Portugal e Espanha a nível europeu, assim como o potencial a nível do hidrogénio verde.

No final da cimeira, Marcelo e Costa darão uma conferência de imprensa conjunta. Este domingo, o chefe de Estado e o primeiro-ministro português tiveram encontros com os Presidentes da Costa Rica, Rodrigo Chaves, e de Cuba, Miguel Díaz-Canel, à margem da Cimeira Ibero-Americana, em Santo Domingo.

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