Política

Ato de insubordinação na Marinha "vai ficar na nossa história", admite Gouveia e Melo: "Não vou permitir que isto alastre"

Ato de insubordinação na Marinha "vai ficar na nossa história", admite Gouveia e Melo: "Não vou permitir que isto alastre"
PEDRO SARMENTO COSTA

Chefe da Armada admite que episódio não mancha reputação do país, mas que será notado pelos aliados. Navio não está nas melhores condições, mas está operacional, garante

Foi um almirante Gouveia e Melo visivelmente irritado que saiu do NRP Mondego, o navio em que 13 marinheiro recusaram embarcar no sábado para uma missão de acompanhamento de um navio russo ao largo de Porto Santo. “Disse que não esquecia e que este ato vai ficar registado na nossa história”, afirmou o Chefe de Estado Maior da Armada (CEMA) aos jornalistas, depois de ter falado à guarnição.

Um ato de insubordinação nas Forças Armadas é um ato muito grave. A hierarquia existe proque há necessidade de disciplina e não o contrário. Há necessidade de as forças militares serem altamente disciplinadas e quando quebramos a disciplina o que estamos a quebrar é a essência da Forças Armadas e nós, militares, não o podemos permitir”, continuou Gouveia e Melo, garantindo de forma veemente: “Não vou permitir que isto se alastre ou que possa passar despercebido um ato destes.”

Gouveia e Melo assumiu que foi à Madeira para dizer isso mesmo “olhos nos olhos” dos militares insubordinados que, depois deste encontro, saem do Funchal para Lisboa, sendo substituídos por outros militares que vão para o Funchal. “O que vim aqui dizer é que não são admissíveis atos de indisciplina”, prosseguiu o almirante, adiantando que “será um juiz de direito a julgar estes comportamentos”.

Ainda assim, continuou, “face ao ruido externo fiz questão e mandar uma inspeção independente” para avaliar se tinha havido algum erro na cadeia de comando. E adiantou, deixando implícito que essa avaliação deu razão ao comando: “O navio não está nas melhores condições, mas os navios militares, face às suas redundâncias, operam mesmo com limitações.”

Impacto internacional

A questão, contudo, não é se os militares tinham ou não razões para recusarem a missão. Essa avaliação, frisou Gouveia e Melo, não lhe compete. ""Parte destes militaes acharam que estavam em risco. Não lhe compete a eles fazer essa avaliação. Essa avaliação é da linha de comando", disse o CEMA que garante: “Não mandamos missões impossíveis.”

Gouveia e Melo não sabe a quem serve este episódio: “Ao país não serviu, à Marinha não serviu e a estes homens, que serão vitimas do seu próprio ato, também não serviu.” Mas aponta para “alguém que gosta de criar sensacionalismo” e que acusa de estar a usar um vídeo nas redes sociais para ampliar esse sensacionalismo. O vídeo “tem no mínimo um ano e meio e não é deste navio”, aproveitou para esclarecer.

Este caso “não manchará a nossa reputação, mas será notado pelos nossos aliados”, admitiu o almirante, que, questionado sobre o que andava um navio russo a fazer perto de Porto Santo, disse que isso deveria ser perguntado aos russos. Mas deixou no ar a ideia de que podem andar a verificar cabos submarinos.

Já sobre os meios que faltam à Marinha, o CEMA remeteu para o poder político. “Não fui eleito democraticamente para decidir sobre isso, quem foi eleito para decidir sobre isso foi o Governo”, afirmou, esclarecendo também aqui a cadeia de comando: “Eu informo. Com o que o país me atribui começa o meu dever de otimizar todos esses recursos para cumprir a missão da Marinha.”

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