Política

Marcelo entrega Ordem da Liberdade ao Expresso: "É preciso recriar a democracia e o Expresso tem um papel aí como teve há 50 anos"

Marcelo entrega Ordem da Liberdade ao Expresso: "É preciso recriar a democracia e o Expresso tem um papel aí como teve há 50 anos"
TIAGO MIRANDA

Presidente da República encerrou Conferência dos 50 anos com elogios a Francisco Pinto Balsemão e um caderno de encargos para o Expresso. Marcelo disse que a democracia está “velha” e que é preciso olhar para o escrutínio pela comunicação social como natural e fundamental

Marcelo entrega Ordem da Liberdade ao Expresso: "É preciso recriar a democracia e o Expresso tem um papel aí como teve há 50 anos"

Eunice Lourenço

Editora de Política

Foi um discurso longo, cheio de memórias, mas que terminou com um caderno de encargos para o futuro do Expresso. “É preciso recriar a democracia e o Expresso tem um papel aí como teve há 50 anos”, disse o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, no encerramento da Conferência dos 50 anos do Expresso, que decorreu esta sexta-feira no auditório da Fundação Champalimaud. Uma ocasião que terminou com a atribuição ao Expresso do título de membro honorário da Ordem da Liberdade, cujas insígnias entregou a Francisco Pinto Balsemão.

Marcelo falou longamente do início do Expresso e de como o jornal foi importante para aquilo que seriam os 3D do 25 de Abril: descolonizar, democratizar, desenvolver. Mas, disse, os 3D continuam atuais e o Expresso continua a ser importante “hoje e no futuro” para os atualizar.

“Descolonizar hoje significa afirmar Portugal como plataforma entre oceanos e continentes”, disse Marcelo, para quem a vocação universal do país “é o corolário da luta contra a descolonização”. E, nesse âmbito, é preciso “dar nova vida à CPLP e à Europa”.

O segundo D é, hoje, “recriar a democracia portuguesa”, que o Presidente diz estar “velha no sistema de partidos, velha na debilidade económica e financeira, no domínio da comunicação social, velha quanto à capacidade de entendimento e à capacidade de aceitar o escrutínio pela comunicação social”, numa crítica velada ao Governo, que ainda havia de reforçar no terceiro D de desenvolvimento.

É preciso, disse o PR, desenvolver “um país que tem 2 milhões de pobres e muitos mais em risco de pobreza” e que “não conseguiu em 50 anos ultrapassar os problemas de coesão territorial”. A comunicação social em geral, mas ”o Expresso, em particular, como líder que é" não pode ser acomodado e conformista.

“É incómodo? É incomodo! Critíca? Critíca! Ataca? Ataca! Faz parte da lógica da democracia tudo isso ser natural e fundamental", insistiu o Presidente, desafiando o semanário que ajudou a fundar a ser “sempre inconformista”. E concluiu: “É isso que espero, como modesto fundador do Expresso, é isso que espero como cidadão e espero como Presidente da República Portuguesa.”

Elogios a Balsemão e as faturas

Para além dos encargos e desafios para o Expresso, o discurso de Marcelo foi marcado, a cada momento, pelos elogios a Francisco Pinto Balsemão. Foram, aliás, uma constante ao longo do discurso do Presidente, que recordou vários episódios da fundação e início do Expresso. “O Expresso quis ser uma realidade mais abrangente, mais moderna, mais desafiadora daquilo que era o passadismo do regime. E só podia ser Francisco Pinto Balsemão a personificar isso. É um caso ímpar de alguém que lidera um projeto de comunicação social, sabendo de comunicação social e só querendo que esse seja um projecto de comunicação social", disse Marcelo, que tem uma longa e nem sempre feliz história política com o fundador do Expresso.

E também isso lembrou ao recordar como Pinto Balsemão “tricotou uma amplíssima coligação” que fez do Expresso um dos “catalisadores positivos” que ditaram o fim da ditadura. “Pagou facturas imensas por causa disso, uma parte das faturas por minha conta”, afirmou, recordando como, sucedendo na direção do Expresso a Balsemão, nomeado primeiro-ministro, quis mostrar que o jornal era imune ao facto de o seu proprietário e primeiro diretor ser chefe do Governo.

“Isso acarretaria no futuro faturas para mim”, ironizou ainda o Presidente, que recentemente se viu criticado no livro de memórias de Balsemão, que o caracterizou como um “escorpião” traidor. Balsemão "nunca quis ser um monarca absoluto. Não quis ser na altura, não quis ser durante 50 anos, não quer hoje. Isto é raríssimo na sociedade portuguesa. É a sua força e a força do seu projeto", elogiou ainda Marcelo que, antes de lhe entregar os símbolos da Ordem da Liberdade, anunciou ainda que lhe reserva outra condecoração para fundador do grupo Impresa e ex-primeiro-ministro.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: elourenco@expresso.impresa.pt

Comentários
Já é Subscritor?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate