Política

Natal em "cooperação institucional". Costa pede "mãos dadas" ao PR, Marcelo defende "estabilidade"

Natal em "cooperação institucional". Costa pede "mãos dadas" ao PR, Marcelo defende "estabilidade"
ANTÓNIO PEDRO SANTOS

António Costa não foi pobre a pedir - “mais do que nunca (…) o que temos que fazer é seguir juntos", disse a Marcelo. E o Presidente, sem ser mãos largas, reconhece que "talvez seja boa ideia não juntar fatores de instabilidade”.

O Governo foi ao Palácio de Belém desejar Boas Festas ao Presidente da República e não escondeu que “mais do que nunca” conta com Marcelo. António Costa disse-o preto no branco - “estes tempos exigentes, mais do que nunca, exigem cooperação e solidariedade institucional” - e Marcelo Rebelo de Sousa, sem fazer grandes promessas, não foi desmancha-prazeres.

Em tempos de guerra, "que todos esperamos que sejam o mais curtos possível " e de inflação histórica, o Presidente concorda que “talvez seja boa ideia não juntarmos fatores de instabilidade”. E assumiu que “quem tem responsabilidade de cuidar disso, cuida disso”.

Marcelo não foi tão expressivo quanto o primeiro-ministro no léxico usado neste encontro natalício. António Costa deixou em Belém a frase forte do dia - “Nestes momentos o que temos que fazer é dar as mãos e seguir juntos”, afirmou, lembrando que o Governo tem vindo a acudir à crise no registo que o próprio Presidente tem defendido: “Ir vendo e avançando”.

O Presidente, embora reconhecendo que “alguns não vão gostar de ouvir isto” (e referiu a oposição), não conseguiu estragar a festa e, pelo contrário, concordou que “no que depender dos responsáveis políticos” não faz sentido “somar problemas adicionais ao que já existe”. Disse, aliás, ver “com pasmo” como em paises vizinhos (Espanha?) “ainda vao arranjar guerras entre poderes” aoesar do contexto de guerra e crise que se vive na Europa.

Assumindo a defesa da estabilidade política e a não criação de “problemas adicionais” (referência aos casos que têm desestabilizado o próprio Governo?), o Presidente fisse acreditar que “Todos percebem isso”. Ainda que “alguns possam não gostar muito”.

Num improviso com alguma ironia - “desejo que no próximo ano nos encontremos aqui, não diria com otimismo porque isso é um monopólio do senhor primeiro-ministro” - Marcelo Rebelo de Sousa puxou pela capacidade de adaptação dos portugueses aos contextos difíceis e que associou à “sabedoria de 900 anos de história”.

“Os portugueses vão encontrando forma de mudarem a sua vida para se ajustarem”, defendeu o Presidente, que disse ter andado nos dias das cheias a visitar várias zonas ("dei várias voltas, algumas incógnitas") e ter constatado como as pessoas acataram os pedidos para que ficassem em casa. “O português joga no seguro” e “isto é maturidade”, afirmou. Embora reconhecendo que “na ceia de Natal, para a família, vão dizer muito mal do Presidente e um pouco mal do Governo, seja por causa do dinheiro, seja por causa da Saúde …”. Costa e Manuel Pizarro sorriram.

Marcelo ainda aproveitou para olhar para trás e lembrar como, desde que a sua coabitação com António Costa começou, tiveram que atravessar tantos anos atipicamente difíceis. No Natal de 2016, era a saída de Portugal do Défice Excessivo e a crise no sistema financeiro; no de 2017, ainda a banca e a ressaca dos fogos; em 2018, “foi o aparecimento dos populismos e movimentos inorgânicos que não cabiam no sistema partidário”; e em 2019, “quando se previa uma estabilização, cai a pandemia”.

Após dois anos de pandemia, veio a guerra que o Presidente sublinha ninguém saber quando termina, e por isso os seus votos foram para “o Natal possível” e que “o ano que vem seja melhor do que os últimos três”. Aqui, Marcelo espetou o ferrete em Costa - “Digo os últimos três porque já nem vou discutir os outros para trás (os da geringonça de esquerda), porque aí o problema é de confronto ideológico”.

Justificada a cooperação institucional com a sucessão de anos difíceis, Marcelo Rebelo de Sousa despede-se de 2022 de novo a apostar na estabilidade. E com um pedido de ajuda lavrado em acta pelo primeiro-ministro para o ciclo que se segue. Paz na coabitação, portanto. Pelo menos nas mensagens natalícias entre S. Bento e Belém.

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