Chega espera que decisão do PSD de não avançar com comissão de inquérito ao Banif não seja “manobra dilatória”
RUI MINDERICO/Lusa
Para André Ventura, a opção por dirigir perguntas ao primeiro-ministro “vai apenas atrasar e dificultar mais” o apuramento dos factos. Luís Montenegro justificou-se, dizendo que o PSD não é “daqueles partidos que propõem comissões de inquérito à razão de uma por semana”
O Chega espera que a opção do PSD de não avançar, para já, para uma comissão parlamentar de inquérito sobre uma alegada interferência do primeiro-ministro na banca não seja “uma manobra dilatória”. “O momento de investigar é agora. Espero e confio que o PSD não está a fazer isto para simplesmente proteger alguns dos seus dirigentes ou ex-dirigentes”, disse André Ventura, esta quarta-feira, em declarações aos jornalistas, na Assembleia da República.
O presidente do Chega acrescentou que o seu partido manterá e levará a votos a sua proposta de criação de uma comissão de inquérito para “apurar a eventual ingerência do primeiro-ministro na autonomia do Banco de Portugal [BdP] para proteger a filha do Presidente de Angola”. Ventura disse esperar a “viabilização” por parte do PSD, da Iniciativa Liberal e dos partidos à esquerda do PS, para que este fique “isolado”, numa votação e debate a decorrerem “já após o Orçamento do Estado”.
“À medida que o tempo passa, o assunto vai ficando menos na ordem do dia, as questões vão-se dissipando e muitos dos intervenientes podem até optar por ter intervenções mais reduzidas ou até deixar de participar e não querer falar”, sinalizou o líder e deputado do Chega. E avançou as razões para a iniciativa do seu partido: “Estamos a falar da interferência direta do primeiro-ministro, da transmissão de informações erradas ou falseadas para Bruxelas enquanto se davam outras ao mercado português, da proteção eventual e alegada de uma administradora [Isabel dos Santos] que tem, neste momento, um mandado de captura internacional pela Interpol. Penso que isto é suficientemente grave para que o Parlamento não perca mais tempo e constitua uma comissão de inquérito.”
Com uma comissão, o Chega pretende chamar ao Parlamento o ex-governador do BdP Carlos Costa, bem como o atual, Mário Centeno, e “anteriores ministros das Finanças” – e ainda “pedir um depoimento por escrito de António Costa” e “eventualmente de outros governantes da altura”. O “quadro temporal” seria “do início ao fim do processo de resolução do Banif”, especificou Ventura.
O líder parlamentar do PSD, Joaquim Miranda Sarmento, com o ex-ministro João de Deus Pinheiro, no lançamento do livro de Luís Rosa e Carlos Costa
O PSD fez saber esta terça-feira que não avançará, para já, com uma comissão de inquérito, mas pressionará o primeiro-ministro para dar explicações sobre o assunto. Entretanto, o partido dirigiu 12 perguntas a António Costa sobre o afastamento de Isabel dos Santos do BIC e sobre a resolução do Banif. Para o Chega, “esta diligência vai apenas atrasar mais, dificultar mais e complicar mais” o apuramento dos factos.
“Compreendo que para o PSD se possa colocar a questão incómoda do Banif e os efeitos que [uma comissão] pode ter na gestão anterior do PSD, mas as comissões de inquérito são para investigar a sério”, atirou Ventura. Apesar de não concordar com a opção social-democrata, o líder do Chega disse “aceitar este caminho diferente” se isso significar que os dois partidos avançam posteriormente na criação de uma comissão de inquérito potestativa – ou seja, obrigatória. Para isso, o Chega precisa do apoio do PSD, uma vez que uma comissão deste tipo necessita de um mínimo de 46 deputados, sendo que só dispõe de 12.
Luís Montenegro, presidente do PSD, justificou a opção tomada, dizendo que o seu partido não é “daqueles que propõem comissões de inquérito parlamentar à razão de uma por semana”. “Até podemos vir a ter um inquérito parlamentar sobre esta matéria. Não sei. Mas nós, para já, hoje mesmo, estamos a dirigir ao senhor primeiro-ministro perguntas concretas”, rematou, ensaiando um afastamento relativamente ao Chega. A eventual acusação de, mais uma vez, ir ‘a reboque’ de uma proposta do partido de Ventura terá sido, aliás, uma das razões para o PSD decidir não avançar, para já, com uma comissão de inquérito.
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