Política

Marcelo e Lula reuniram-se durante uma hora e quinze minutos. Com muitos 'tapinhas' nas costas

Em novembro, Marcelo Rebelo de Sousa, recebeu em Belém Lula da Silva, já eleito, mas ainda não empossado
Em novembro, Marcelo Rebelo de Sousa, recebeu em Belém Lula da Silva, já eleito, mas ainda não empossado
Nuno Fox

Após o encontro, no Palácio de Belém, em Lisboa, não houve declarações à comunicação social. Lula da Silva remeteu-as para mais tarde, após o encontro com o primeiro-ministro António Costa

O chefe de Estado português, Marcelo Rebelo de Sousa, e o Presidente eleito do Brasil, Lula da Silva, reuniram-se esta sexta-feira durante cerca de uma hora e quinze minutos no Palácio de Belém, em Lisboa. Lula chegou antes da hora prevista e entrou rápido, acompanhado de Fernando Haddad, dado como um sério candidato aos ministérios dos Negócios Estrangeiros ou da Fazenda (Finanças).

Antes, o Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, esteve também com Marcelo Rebelo de Sousa e Lula da Silva, num encontro a três que não estava previsto e que durou aproximadamente quinze minutos. De tal forma, que enquanto Marcelo e Lula se cumprimentavam para as habituais fotografias, o chefe de Estado moçambicano aproximou-se também se juntou aos sorrisos e cumprimentos para a imagem.

Após os encontros, não houve declarações à comunicação social. Marcelo e Lula mostraram-se muito próximos e coloquiais, com o Presidente português a recordar os tempos de comentador televisivo e Lula da Silva a responder à insistência dos jornalistas que ainda não falava com a comunicação social porque, primeiro, “tinha de cumprir a agenda para arranjar assunto".

Às 20h o recém-eleito residente brasileiro será recebido pelo primeiro-ministro português, António Costa, na residência oficial de São Bento, em Lisboa. Espera-se que seja acompanhado pela futura primeira dama, a socióloga Rosângela, conhecida no Brasil como Janja.

O ministro português dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, participou no encontro de Marcelo Rebelo de Sousa com Lula da Silva, mas saiu um pouco antes do fim e também não fez declarações.

Manifestantes contra e a favor

À porta do Palácio de Belém, separados por grades de metal, ouviam-se os gritos dos manifestantes pró e contra Lula da Silva. Os manifestantes a favor de Lula da Silva dispersaram, mal o encontro com Marcelo Rebelo de Sousa terminou.

Os opositores resistiram mais tempo, como Sónia Gimenes, em Portugal até janeiro. A filha vive em Cascais, onde tem um restaurante e Sónia, oriunda de Curitiba, cidade no sul do país, tradicionalmente pró Jair Bolsonaro, estava à maneira: vestida e maquilhada de verde amarelo.

Questionada sobre a razão da manifestação, Sónia recusou ser o que se diz uma “bolsonarista”. “Nós somos pró-nação, queremos que as Forças armadas tomem o poder e impeçam um ladrão de ser Presidente do Brasil”, afirmou Sónia Gimenes.

O embate entre os dois grupos de manifestantes marcou esta tarde, mais até do que as reuniões à porta fechada dentro do palácio. Os dois grupos tinham menos de cinco metros a separá-los entre si e com direito a um contingente policial reforçado.

"Lula ladrão, o seu lugar é na prisão", gritaram manifestantes que contestam a vitória eleitoral de Luiz Inácio Lula da Silva nas presidenciais de 30 de outubro.

"Brasil, Brasil, Brasil, vitória", replicavam, por sua vez, os apoiantes de Lula da Silva.

Os apoiantes contra e pró-Lula da Silva esperavam a saída do Presidente eleito do Brasil da reunião com o chefe de Estado português, no primeiro de dois dias da sua visita a Portugal

Quando esta aconteceu, os manifestantes reforçaram os seus gritos a favor e contra o político brasileiro, mas quando a polícia cortou o trânsito para facilitar a circulação da comitiva, três autocarros da Carris fizeram uma barreira entre o palácio e a concentração.

O empresário Daniel Rolha, há 18 anos radicado em Portugal, disse à Lusa que apesar da divisão evidente entre os brasileiros concentrados em frente ao Palácio de Belém, "o Brasil não é um país divido".

"Não acredito num Brasil dividido, mas reconheço que o grande desafio de Lula da Silva é unir os brasileiros", vincou o apoiante do Presidente eleito.

A administradora de empresas Joyce, há seis anos a viver em Portugal, afirmou à Lusa que estava em frente ao Palácio de Belém, "para protestar contra a corrupção e o roubo da vitória eleitoral de Jair Bolsonaro" nas eleições de 30 de outubro.

Questionada sobre a inevitabilidade de Lula da Silva tomar posse em 1 de janeiro próximo, Joyce, que recusou revelar o apelido, foi perentória: "As Forças Armadas não vão permitir".

Do Egito para Portugal

Lula da Silva está de visita a Portugal depois de ter participado na 27.ª Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP27), em Sharm el-Sheikh, no Egito.

Luiz Inácio Lula da Silva, que já cumpriu dois mandatos como Presidente do Brasil, entre 2003 e 2011, foi novamente eleito em 30 de outubro, na segunda volta da eleição presidencial brasileira, com 50,9% dos votos, derrotando o chefe de Estado brasileiro em exercício, Jair Bolsonaro.

Nessa noite, logo depois de o Supremo Tribunal Eleitoral do Brasil dar eleição como matematicamente definida, o chefe de Estado português felicitou Lula da Silva e manifestou-se certo de que o seu mandato "corresponderá a um período promissor nas relações fraternais" com Portugal.

De acordo com a Presidência da República Portuguesa, na sequência dessa mensagem de felicitações, Marcelo Rebelo de Sousa "falou telefonicamente, ao início da madrugada de Lisboa, com o Presidente eleito do Brasil Lula da Silva, tendo ambos reiterado a importância das boas relações entre os dois povos e os dois países irmãos".

Marcelo Rebelo de Sousa já tinha anunciado em setembro a intenção de estar presente na posse do próximo Presidente do Brasil, em 1 de janeiro de 2023, em Brasília.

Filipe Nyusi deslocou-se a Portugal a convite do chefe de Estado português para uma visita entre hoje e domingo, que inclui também hoje um encontro com o primeiro-ministro, António Costa.

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