Política

Novo líder do PCP diz que "uma parte" dos que saíram do partido na crise de 2000 "faz muita falta"

1º discurso de Paulo Raimundo como secretário geral do PCP, na sua Confer~encia Nacional
1º discurso de Paulo Raimundo como secretário geral do PCP, na sua Confer~encia Nacional
Ana Baiao

“Uma parte” das pessoas que saíram do PCP, incluindo dos chamados renovadores, "faz cá muita falta porque as suas opiniões são válidas para construir um partido que nós queremos mais forte", diz Paulo Raimundo, numa entrevista à Lusa

O novo secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, defendeu que faz "muita falta" parte dos comunistas que se afastaram na sequência da crise interna que opôs, há vinte anos, os chamados ortodoxos e renovadores.

"Penso que uma parte das pessoas que foram arrastadas nessa dinâmica nos anos 2000, uma parte das pessoas que foram arrastadas e até acabaram por sair, ...uma parte delas faz cá muita falta porque as suas opiniões são válidas para construir um partido que nós queremos mais forte", declarou.

O novo secretário-geral comunista concedeu que, na altura dessas discussões, nas vésperas do Congresso de 2000, [ano em que subiu à Comissão Política do PCP] sobre qual deveria ser o rumo do partido, se posicionou "do lado dos ortodoxos", ressalvando que considera a designação "simplista" e sem "correspondência com o conteúdo desse debate".

"Posicionei-me naquilo que eram as posições do partido e da JCP, que coincidiam com as minhas. Foi um posicionamento fácil num debate exigente e muito difícil", disse.

O dirigente afirmou que, na altura, "havia quem achasse que o partido devia ser outra coisa diferente do que é, e a maioria do partido entendeu que o partido devia continuar com as suas características, natureza e identidade".

Sobre se essa discussão está ultrapassada, Paulo Raimundo afirmou que o PCP é um "partido que afirma a sua identidade e natureza" -- marxista-leninista -- "mas não trava, pelo contrário, fomenta e discussão e o debate interno". "Com a consciência de que, e bem, nem todos temos as mesmas opiniões sobre os assuntos todos. Damos a opinião e a opinião que apuramos coletivamente é aquela que vale", acentuou.

Para Raimundo, a Conferência Nacional do passado fim de semana "acaba por animar" e dar "alguma força" que ajuda a que "alguns se aproximem e a que outros se reaproximem".

O líder do PCP disse, no seu discurso na Conferência Nacional, que conta "com os que se aproximam e com os que se reaproximam" do partido.

Instado a clarificar essa afirmação, Paulo Raimundo respondeu, na entrevista à Lusa, que verifica hoje um "movimento de gente" que se afastou por várias razões, "por oposição a esta ou aquela posição do PCP" e que "passado este tempo todo" concluem que "este é o partido que apoiam". "E uns apoiam voltando, outros apoiam ajudando" e outros até apoiam discretamente, "pela calada", disse, referindo ainda os que "não querem ingressar mas que, em determinadas batalhas", estarão com o PCP.

A crise interna que se acentuou nas vésperas do Congresso de 2000 opôs os que defendiam a abertura do partido e novos métodos de funcionamento e aqueles, que ficaram conhecidos como ortodoxos, que defendiam a manutenção do centralismo democrático e da matriz marxista-leninista. Nesse debate interno, com momentos dramáticos, foram instaurados processos disciplinares a alguns dos rostos mais conhecidos do movimento pela renovação do PCP, como Edgar Correia e João Amaral, já falecidos.

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