Política

O que fazer? PCP discute estratégia a braços com legado de Jerónimo

12 novembro 2022 8:16

Paulo Raimundo entre Carlos Carvalhas, o líder cessante, e Jerónimo de Sousa, o líder eleito no Congresso de 2004. À direita, Francisco Lopes, o eterno candidato a secretário-geral que ficou pelo caminho

antónio pedro ferreira

Jerónimo de Sousa tornou a convergência política possível, deu um rosto humano ao partido e calou a oposição interna. Três marcas de um líder que termina este sábado um mandato de 18 anos.

12 novembro 2022 8:16

Se há uma característica própria de Jerónimo de Sousa é a de aprender rápido. Na primeira campanha eleitoral que disputou como secretário-geral do PCP — as legislativas de 2005, em que conquistou mais dois deputados para a bancada comunista —, o antigo operário metalúrgico chegava “amassado” ao fim do dia. Motivo? Os abraços efusivos e as fortes pancadas nas costas dadas pelos militantes, que não escondiam o entusiasmo perante aquele novo líder, que fazia questão de se colocar ali mesmo no meio do povo. Cunhal, primeiro, e Carvalhas, depois, sempre evitaram uma proximidade excessiva com os seus camaradas. Não era defeito, era feitio. Mas Jerónimo, pelo contrário, insistiu sempre em ser “um deles, um homem do povo”. E isso, no terreno eleitoral, produziu efeitos imediatos — tanto para o bem, com o crescimento da popularidade do PCP, como para o mal, no acen­tuar das dores de costas do novo líder. “Passei a responder na mesma moeda. Abria a palma da mão — que é grande e pesada — e dava uma pancada ainda mais forte nas costas do meu camarada. Nunca mais repetiam a proeza”, contou um dia ao Expresso.

Sempre foi uma força da natureza, o que se viu logo à nascença, com os cinco quilos e quatrocentos com que diz ter vindo ao mundo. E daí para a frente — a infância dura, a passagem pela guerra na Guiné e a entrada para operário metalúrgico quando ainda estudava na escola comercial — foi sempre assim que moldou o seu caráter de resistente. Em 2004, quando chegou a líder do PCP, encontrou o partido a braços com uma das mais sérias cisões de altos quadros, que batiam com a porta em rutura aberta com as posições antiperestroika que marcavam a linha oficial. Carlos Carvalhas saiu desgastado com as guerras internas e Jerónimo entrou na liderança comunista disposto a não ceder um milímetro na tarefa de acabar de vez com as divisões internas.