Política

Governo chamou embaixador russo em Lisboa para condenar anexação “ilegal” de regiões ucranianas

Governo chamou embaixador russo em Lisboa para condenar anexação “ilegal” de regiões ucranianas
Sergei Fadeichev\TASS via Getty Images

Vários governos europeus já tinham chamado os embaixadores russos durante o fim-de-semana para condenar a anexação decretada pela Rússia. Embaixada em Lisboa responde que anexações são “direito consagrado na carta da ONU”

O Ministério dos Negócios Estrangeiros convocou esta segunda-feira o embaixador russo em Lisboa, para lhe transmitir a “firme rejeição” e a “inequívoca condenação” do Governo português da anexação “ilegal” de territórios ucranianos pela Rússia.

Durante a reunião, o Diretor-Geral de Política Externa, Rui Vinhas, sublinhou ao embaixador russo, Mikhail Kamynin, que o “ato de anexação é ilegal e configura uma violação grosseira do Direito Internacional, cujos efeitos Portugal jamais reconhecerá”, explicou o Ministério dos Negócios Estrangeiros em comunicado.

“Além do apelo para que as autoridades russas anulem a sua decisão, foi igualmente transmitido ao embaixador da Federação Russa em Lisboa que esta anexação põe em causa a ordem internacional e a arquitetura de segurança europeia”, destacou o ministério liderado por João Gomes Cravinho.

O Governo português transmitiu ainda ao embaixador russo, na reunião que decorreu no Ministério dos Negócios Estrangeiros, que “a União Europeia adotará medidas restritivas adicionais e continuará a apoiar a integridade territorial e a soberania da Ucrânia”.

O embaixador russo em Lisboa, Mikhail Kamynin, transmitiu hoje ao Governo português que a realização de referendos nas regiões ucranianas anexadas pela Rússia corresponde a "um direito consagrado na Carta das Nações Unidas".

“[Com] a realização dos referidos referendos tornou-se [possível] a concretização do direito inalienável dos habitantes das repúblicas das regiões do Donbass [Donetsk e Lugansk], Zaporijia e Kherson, consagrado na Carta da ONU, que afirma diretamente o princípio da igualdade e autodeterminação dos povos”, realçou a Embaixada da Rússia em Lisboa, em comunicado, após o seu embaixador ter sido convocado pelo Governo português.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros transmitiu hoje ao embaixador russo em Lisboa a “firme rejeição” e a “inequívoca condenação” do Governo português da anexação “ilegal” de territórios ucranianos pela Rússia.

Em reação a esta reunião, a Embaixada da Rússia em Lisboa confirmou, em comunicado, que esteve no Ministério dos Negócios Estrangeiros para “uma conversa” com o Diretor-Geral de Política Externa, Rui Vinhas, que transmitiu a posição desfavorável de Portugal da anexação pela Rússia das regiões ucranianas de Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporijia.

“Em resposta, os parceiros portugueses foram informados da posição russa exposta no discurso do Presidente Vladimir Putin na cerimónia no (…) Kremlin a 30 de setembro de 2022, cujo texto integral foi entregue a Rui Vinhas”, referiu a Embaixada da Rússia em Portugal.

“Também durante a conversa, alguns aspetos da atual situação geopolítica do mundo foram brevemente abordados”, acrescentou ainda a embaixada russa na nota de imprensa.

Vários países da União Europeia já tinham chamado os embaixadores russos no fim de semana para transmitirem esta mesma mensagem.

Em Espanha, o Ministério dos Negócios Estrangeiros, União Europeia e Cooperação também convocou hoje o embaixador da Rússia em Madrid, Yuri Korchagin, em protesto contra a anexação de quatro regiões ucranianas por Moscovo.

Segundo fontes diplomáticas citadas pela Europa Press, Madrid insistiu junto do embaixador russo que a Espanha não reconhece esta "farsa" eleitoral, numa referência aos referendos que Moscovo fez nesses territórios, e deixou claro o firme apoio à soberania territorial da Ucrânia.

Também a Itália transmitiu hoje a condenação pela anexação russa de regiões ucranianas através do Secretário-geral do Ministério dos Negócios Estrangeiros, o embaixador Ettore Sequi.

Numa conferência de imprensa depois de o embaixador russo, Sergey Razov, ter sido convocado para uma reunião, Sequi declarou que a Itália condena o referendo "falso" que a Rússia realizou em áreas da Ucrânia ocupadas pelas suas forças e não reconhecerá a declaração de Moscovo de que as anexou.

O Presidente russo, Vladimir Putin, formalizou na sexta-feira em Moscovo a anexação de quatro regiões ucranianas - de Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporijia - áreas parcialmente ocupadas pela Rússia no leste e sul da Ucrânia, após a realização de referendos, considerados ilegais por grande parte da comunidade internacional.

A Duma, câmara baixa do parlamento russo, ratificou hoje os tratados de anexação das regiões ucranianas,

As quatro regiões representam cerca de 15% do território da Ucrânia, ou cerca de 100.000 quilómetros quadrados, um pouco mais do que a dimensão de países como a Hungria e Portugal ou um pouco menos do que a Bulgária, segundo a agência espanhola EFE.

A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de mais de 13 milhões de pessoas – mais de seis milhões de deslocados internos e mais de 7,4 milhões para os países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

A invasão russa – justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de “desnazificar” e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.

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