O pacote anti-inflação do Governo, que vai ser apresentado esta segunda-feira, foi o tema principal das declarações deste sábado de Marcelo Rebelo de Sousa à comunicação social, em plena Feira do Livro de Lisboa. E o tom foi o de avisar o executivo que tem em mãos uma faca de dois gumes: por um lado é preciso uma "intervenção de choque", por outro há que ter cuidado com o défice e a evolução económica do país.
Quando questionado se este pacote - cujo valor tem sido antecipado em torno de dois mil milhões de euros - tem um valor superior ao esperado, dada a incerteza dos próximos tempos, o Presidente respondeu que é necessária, “por um lado, uma intervenção de choque para compensar a situação vivida nos últimos meses e neste momento.” mas, por outro lado, “é preciso acompanhar a inflação” e as medidas podem ter de ser ajustadas.
“Há que ter, por um lado, uma intervenção choque para compensar a situação vivida nos últimos meses e neste momento, e por outro lado, há que acompanhar – eu tenho repetido isto – a inflação. Há quem pense que a inflação pode descer a partir de outubro, novembro”, disse.
Para Marcelo Rebelo de Sousa, é preciso ter presente que se a inflação descer a pique a partir do final do ano as medidas “têm de ser reajustadas”.
"O PIB está a crescer 7,1% - está a crescer muito -; em segundo lugar, a própria inflação proporciona receitas excecionais no Orçamento do Estado. Por isso, há um conjunto de condições que para o ano podem não ser repetíveis. O PIB pode não voltar a crescer tanto, a situação em termos de disponibilidade pode não ser tão grande e por isso tem de haver esse equilíbrio: atacar a situação naquilo em que é preciso atacar com a urgência e ver a evolução da economia e da própria inflação para ter a certeza de que é preciso ajustar mês a mês, permanentemente, as medidas à evolução da situação vivida."
Apoios também para empresas
Elencou ainda como medidas dirigidas e sem impacto permanente apoios diretos às famílias, apoios a “certos setores de atividade na economia que são mais sensíveis ao aumento dos preços da energia”, “apoios aos setores mais carenciados” e “algumas coisas para as classes médias”.
Mas advertiu: “Sem haver choques tão amplos, tão amplos que na sua duração possam ter custos que são excessivos não agora, mas daqui a uns meses”.
Marcelo Rebelo de Sousa considerou ainda que “se podia ter tomado as medidas um bocadinho mais cedo”, mas admitiu que “por toda a Europa são anunciadas agora”.
Frisou ainda que o impacto do aumento dos preços da energia e da inflação está a afetar particularmente a classe média.
“Obviamente que energia toca toda a gente, mas classe média em particular e outros custos da inflação atingem a classe média, nomeadamente reduz a classe média, esvazia a classe média. Em todos os países da Europa é uma preocupação”, disse.
"Um governo com maioria absoluta não quer dizer um governo sem problemas"
Quanto à saúde, uma área que tem marcado a atualidade, ainda mais após a demissão da ministra Marta Temido, o Presidente disse não querer formular opiniões e prefere que haja “uma visão global sobre a matéria”. É preciso tomar várias medidas, como “introduzir alterações orgânicas de estrutura e verificar se o número de especialistas é suficiente, se é preciso formar mais especialistas, ou se o problema não é de número e sim de distribuição”.
Nomeou também os problemas como “distribuição no espaço, gestão dessas disponibilidades, capacidade do SNS para atrair especialistas" e acrescentou a necessidade de saber se também há lacunas nos "especialistas noutros setores, nomeadamente social e privado”.
O Presidente da República disse ainda que um governo com maioria absoluta não é um governo sem problemas, já que estes existem na sociedade e são colocados ao executivo para serem resolvidos.
Marcelo Rebelo de Sousa reiterou que já houve “várias maiorias absolutas e o facto de haver maioria absoluta não significa que a sociedade não tenha problemas que se colocam, também, às maiorias absolutas para serem resolvidos”.
Notícia atualizada às 21h40