Política

Marcelo corrige discurso antes de receber a Comissão Independente: "É preciso investigar até ao fim" abusos sexuais na Igreja

Marcelo corrige discurso antes de receber a Comissão Independente: "É preciso investigar até ao fim" abusos sexuais na Igreja
NELSON ALMEIDA/Getty Images

“O que mata as instituições é o medo de apurar a verdade e vão apodrecendo”, apontou Marcelo Rebelo de Sousa, numa correção de discurso face ao que tinha dito na semana passada. Esta sexta-feira, o Presidente recebe a comissão independente em Belém

A um dia de receber em Belém, a seu pedido, a Comissão Independente que investiga os abusos de membros da Igreja sobre menores, o Presidente da República defendeu esta quinta-feira que não há nada mais importante do que o apuramento da verdade, apontando a necessidade de se levarem até ao fim as investigações relacionadas com abusos sexuais sobre menores por padres.

“É preciso levar a investigação até ao fim, demore o tempo que demorar, independentemente do número de casos que houver e daí retirarem as ilações. Acho que a comunidade portuguesa e as várias instituições, no caso também da Igreja Católica, devem retirar as conclusões desse procedimento do passado”, apontou Marcelo Rebelo de Sousa.

No final da cerimónia de inauguração da 630.ª edição da Feira de São Mateus, que vai decorrer na cidade de Viseu até 21 de setembro, o Presidente da República sublinhou aos jornalistas de que não há nada mais importante para as instituições do que o apuramento da verdade. “O que mata as instituições é o medo de apurar a verdade e vão apodrecendo. A capacidade de descobrir, denunciar, punir é uma capacidade de instituições vivas e de um Estado de direito vivo”, referiu.

Marcelo Rebelo de Sousa sublinhou ainda que, como acontece sempre em atividades que se consideram que possam vir a ser criminosas, ou foram criminosas, devem ser investigadas.

“Devem ser investigadas pela Comissão, chegando à Comissão, devem ser investigadas pelo Ministério Público, isto é, pelas autoridades judiciais para procederem em conformidade. É assim num Estado de direito, é assim que deve ser”, concluiu.

De acordo com uma notícia publicada hoje pelo Expresso, o bispo da Guarda, Manuel Felício, e o bispo emérito de Setúbal, Gilberto Reis, são suspeitos de encobrimento, havendo também outros casos.

“Há pelo menos mais dois bispos que, além de Manuel Clemente, terão tido conhecimento de queixas de abusos por parte de padres e que não comunicaram essas suspeitas quer à Polícia Judiciária quer ao Ministério Público, as autoridades civis com competência para investigar este tipo de crimes”, informou o semanário.

Na semana passada, o Observador noticiou que o atual cardeal-patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, se reuniu em 2019 com uma vítima de abusos sexuais de menores alegadamente cometidos por um sacerdote do Patriarcado que continuava em funções. A família da vítima já tinha denunciado o caso ao anterior patriarca, D. José Policarpo, no final da década de 1990 — e a decisão da hierarquia eclesiástica na altura foi a de desviar o padre das paróquias onde trabalhava para uma capelania, onde continuou a ter contacto com crianças e jovens.

Nessa altura, Marcelo Marcelo Rebelo de Sousa desvalorizou a polémica. “Aquilo que eu posso dizer — e nem é como Presidente da República, é como pessoa — é que o juízo que formulo sobre as pessoas (e não os elementos da hierarquia católica) D. José Policarpo e D. Manuel Clemente é que não vejo em nenhum deles nenhuma razão para considerar que pudessem ter querido ocultar da justiça a prática de um crime“, disse Marcelo Rebelo de Sousa.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

Comentários
Já é Subscritor?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate