Ataque "persecutório" contra Endesa não é o primeiro caso de ataques diretos a empresas da era Costa. Primeiro-ministro já fez duras críticas à Galp, a quem prometeu uma "lição" após encerramento de refinaria, e chegou a sugerir aos portugueses escolherem outra operadora de telecomunicações que não a PT (Altice) depois das falhas registadas nos incêndios de Pedrógão.
António Costa condicionou esta terça-feira o pagamento de todas as faturas da Endesa contratadas com empresas públicas à validação prévia do secretário de Estado da Energia. Mais: no despacho publicado na manhã desta terça-feira, o primeiro-ministro determinou ainda que os serviços do Estado devem procurar desde já outros fornecedores no mercado, que não a Endesa e que não pratiquem preços especulativos. A atitude "quase persecutória" que faz lembrar "os tempos do 'quem se mete com o PS leva'" foi repudiada pelos partidos da direita e elogiada pelo Bloco de Esquerda, que só tem pena que o Governo não adote nas outras empresas com grandes lucros a estratégia que está a adotar com a Endesa.
Em causa está a polémica que se instalou depois de, este fim de semana, o presidente da Endesa, Nuno Ribeiro da Silva, ter dado uma entrevista a alertar para a possibilidade de aumentos na fatura da energia elétrica até 40% já no próximo mês na sequência da cobrança aos clientes do custo do mecanismo ibérico, que foi acionado para travar o preço do gás natural e que agora tem de se traduzir em alguma compensação. O Governo apressou-se a falar em "alarmismo" e a rejeitar qualquer aumento este ano, e mais ainda nessa ordem de grandeza, e a escalada de tensão com a elétrica resultou num despacho assinado pelo próprio primeiro-ministro a dar um murro na mesa dirigido àquela empresa em específico: não só todos os serviços da administração direta e indireta do Estado não podiam pagar nenhuma fatura à Endesa, "independentemente do valor", sem a validação prévia do governante com aquela tutela (no caso, João Galamba), como os mesmos serviços deviam começar a fazer "consultas de mercado" para acautelar a "eventual necessidade de contratação de novos prestadores de serviço que mantenham práticas comerciais adequadas". Só este ano, segundo o Observador, a Endesa fez mais de 60 contratos com entidades do Estado, entre câmaras, fisco, escolas, universidades ou hospitais.
Para o PSD, a IL e o Chega, este é um caso claro de "abuso de poder" por parte do primeiro-ministro. "A maioria absoluta não pode ser confundida com poder absoluto. Parece que estamos a voltar aos tempos do 'quem se mete com o PS leva'", disse Miguel Pinto Luz, vice-presidente do PSD numa conferência de imprensa na sede do partido, acusando o Governo de, em vez de procurar soluções para os problemas do aumento dos preços da energia, está a "criar situações estéreis e acessórias, passando as culpas a terceiros".
Esta não é a primeira vez, contudo, que António Costa dá uma resposta musculada dirigida a uma empresa particular. Onde é que já vimos isto antes?
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