Ao fim de 100 dias, o Governo de maioria absoluta do PS apresenta já “cansaço, descoordenação e falta de iniciativa”, considera Marques Mendes. No habitual espaço de comentário no Jornal da Noite, na SIC, Mendes cita a notícia do Expresso deste fim de semana em que fontes do PS e do próprio Governo sugerem que pode ser hora de pensar em remodelar a equipa governativa depois do verão. “Isto só evidencia nervosismo.”
Embora considere exagerado pensar em saídas nesta altura, o comentador não se mostra surpreendido, em primeiro lugar porque “começam a vir ao de cima algumas características de muito tempo no poder” — “já vi isto há uns anos com o cavaquismo” na década de 1990, nota.
Mais do que isso, Marques Mendes crê que, ao contrário do que seria expectável num contexto de maioria absoluta, o Governo não está confortável porque enfrenta “uma realidade social” complexa, em que se conjugam altas de taxa de inflação, perda de poder de compra e preocupações sociais. A que se junta “um Governo que corre atrás do prejuízo”, critica o comentador, para quem a aprovação do novo estatuto do SNS esta semana chegou tarde. “Ao fim de sete anos em funções? Se era importante, porque não foi aprovado mais cedo?”
Havia ainda lugar a um terceiro motivo, esse que criou o grande tabu no início da maioria absoluta — António Costa fica até ao fim? “Ainda estamos longe do ano sensível, que é 2024, quando há distribuição de cargos europeus”, diz Marques Mendes, para depois acrescentar: “Ou continua tudo na mesma ou o primeiro-ministro sai para um cargo europeu, e aí podemos ter uma situação mais difícil.” E para assim deixar no ar, uma vez mais, o futuro do primeiro-ministro.
“DGS tem obrigação de explicar” mortes covid
Depois de falar em “precaução” e “solidariedade” em relação aos dias de combate aos incêndios que se seguem, Marques Mendes arrancou a intervenção deste domingo com o tema da covid-19. Em particular, pelo facto de Portugal ser agora o terceiro país da Europa com maior taxa de mortalidade por milhão de habitantes. Os óbitos são sobretudo acima dos 80 anos, nota o comentador, e por isso “devemos mais atenção a essas pessoas mais frágeis e mais idosas”. Principalmente, a Direção-Geral da Saúde.
Marques Mendes cita o artigo de opinião publicado pelo pneumologista João Carlos Winck no Público para questionar a falta de utilização de fármacos antivirais no tratamento da covid-19. “Porque é que não foram comprados mais fármacos? Porque é que em Espanha estes antivirais são usados de forma generalizada e em Portugal quase não são? Última pergunta: em função desta realidade, a DGS vai mudar as regras?”, pergunta Marques Mendes, afirmando que “a DGS tem obrigação de vir explicar” os números da mortalidade por covid no país.
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