Na próxima semana, no Conselho Europeu que irá debater os pedidos de adesão à União Europeia da Ucrânia, República da Moldova e Geórgia, Portugal irá votar a favor. António Costa clarificou a posição portuguesa esta tarde, depois de ouvir os partidos com assento parlamentar, mas deixou alguns avisos e alertas à navegação. Para Costa, o processo será "longo, exigente e incerto" e os países que irão votar a favor devem fazê-lo "de boa-fé e de corpo inteiro" e refletir sobre o "caminho por onde estamos a entrar", que pedirá uma adaptação institucional e orçamental da União Europeia.
Depois de uma semana em que disse esperar pelo relatório da Comissão Europeia e em que levantou muitas dúvidas sobre a utilidade de aprovar de urgência o estatuto de candidata à Ucrânia, António Costa disse que Portugal irá "acompanhar" a recomendação da Comissão Europeia e reconhecer a candidatura ucraniana. Ainda esta semana, o primeiro-ministro não tinha uma posição final sobre o assunto, mas depois de ler o relatório da CE, inequívoco na recomendação, e de ouvir os partidos com um "consenso quase unânime", definiu que Portugal votará a favor e contribuir para a unanimidade necessária para que seja reconhecido o estatuto de país-candidato à UE aos três países.
A posição portuguesa, com Costa a levantar várias dúvidas durante esta semana sobre a utilidade nesta altura da aprovação do estatuto, acabou por perder força depois de Emmanuel Macron, Mario Draghi e Olaf Scholz terem ido na quinta-feira a Kiev apoiar a aprovação da candidatura ucraniana "de imediato". Questionado se essa posição do francês o deixava mais sozinho, Costa respondeu: "Não sei se ficámos sozinhos. Falámos sempre verdade perante as circunstâncias e não temos cartas na manga. Quando temos dúvidas expomos as dúvidas, quando temos certezas expomos as certezas".
Costa deixa avisos e alertas à UE
Apesar do voto certo, Costa não o fará sem deixar avisos e alertas aos restantes parceiros europeus. A sua posição inicial é que o processo não pode ser vazio e por isso insiste em apontar perigos. Não "nos podemos distrair do que é essencial que é não descurar aquilo que a Ucrânia mais necessita de imediato que é apoio financeiro, militar e humanitário", avisou.
Mas mais, para Costa é preciso que os vários países que agora vão votar a favor do reconhecimento das candidaturas estejam todos "conscientes do caminho onde estamos a entrar coletivamente", admitindo que é preciso uma "reflexão sobre a arquitectura institucional e orçamental da UE para criar boas condições para termos uma UE forte, unida, capaz de cumprir os seus objetivos e acolher os novos países candidatos", disse.
Esta posição de Costa serve como um alerta para o que significa a entrada de um país com 40 milhões de habitantes (e um território vastíssimo) na União Europeia e do que isso pode significar para os equilíbrios internos. A nível institucional, por exemplo, lembrou que é preciso pensar nos equilíbrios no número de eurodeputados e representatividade de cada país, o mesmo para a composição da Comissão Europeia, que conta com 27 comissários e já é de difícil gestão.
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