Filha de emigrantes em França, Nathalie de Oliveira acaba de ser eleita deputada pelo círculo da Europa. Militante do Partido Socialista nos dois países, foi adjunta do autarca de Metz e promete lutar agora pelos direitos dos portugueses que vivem no estrangeiro. Alteração da lei eleitoral é "prioridade"
Quando recebeu a chamada de ‘camaradas’ do PS não queria acreditar: “Foi antes da hora, com a convicção e certeza matemática de que elegeríamos um segundo deputado. Mas não acreditei de imediato, já estive em várias campanhas e sei que, por vezes, é preciso esperar até ao último voto“, confessa ao Expresso. Aos 44 anos, Nathalie de Oliveira foi eleita esta quarta-feira deputada pelo círculo da Europa, após o apuramento dos votos da repetição das eleições legislativas, e diz que terá como missão procurar “mais amor correspondido” para os emigrantes.
Emocionada, a lusodescendente conta com entusiasmo que já recebeu uma SMS de Manuel Alegre, o histórico socialista de quem é admiradora pela sua faceta política e poética, a felicitá-la pela eleição: “Parabéns, é justo, fico muito contente!”
No início do mês, esteve ao lado de Paulo Pisco, cabeça de lista do PS pelo círculo da Europa, e José Luís Carneiro, secretário-geral do PS, em campanha, em Paris. Pediu “dois deputados” para o partido e foi ouvida. Agora, promete lutar pelos direitos dos portugueses que vivem no estrangeiro para aumentar a rede de ensino de português, melhorar o atendimento consular, e avançar com a alteração da lei eleitoral: “Já foi assumido e tem que ser uma prioridade da próxima legislatura”, insiste.
Sobre o episódio da repetição da votação no círculo da Europa, diz que demonstrou que "Portugal não é Portugal sem os emigrantes", sendo fundamental aumentar as modalidades de voto disponíveis para os cidadãos residentes no estrangeiro, de forma a promover a sua participação eleitoral.
Falando num “amor infinito” dos emigrantes a Portugal, Nathalie de Oliveira fala por experiência própria. Ou melhor familiar. É filha de portugueses de Celorico de Basto que emigraram na década de 60 para França. O pai começou a trabalhar na construção civil e acabou depois por criar a sua própria empresa. A mãe era a “típica mulher a dias” portuguesa. “Não há um dia que os emigrantes não leiam um jornal português ou sigam canais portugueses. É preciso que o amor à pátria-mãe seja mais correspondido”, defende.
Militante no Partido Socialista em Portugal e França
Militante no Partido Socialista em Portugal e França, Nathalie de Oliveira recorda que em casa os pais sempre foram simpatizantes do socialismo e que desde cedo se convenceu que era a ala política que mais defendia o “progresso” e a “igualdade”.
“Houve sempre em minha casa um grande fascínio por Mário Soares, uma das grandes figuras políticas que trouxe a liberdade a Portugal”, observa. No entanto, os pais nunca promoveram qualquer participação na vida política – pelo contrário, acreditavam que esse mundo “não era para nós”. Apesar de o pai se ter tornado sindicalista e membro de associações, a sua participação cívica ficou por aí. Mas a filha quis fugir à regra.
Foi em 2003 que Nathalie de Oliveira teve o primeiro contacto com a vida política em Portugal, após ter sido convidada pelo então secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Cesário, para participar numa plataforma de lusodescendentes, em Lisboa. Já em França, juntou-se ao Partido Socialista, pouco antes de Sególène Royal avançar para as eleições presidenciais, em 2007, e aceitou o desafio do partido para concorrer nas eleições autárquicas um ano depois. Mas hoje reconhece que, comparado com o português, o Partido Socialista francês é "muito mais conservador".
Passagens pela Comissão Europeia e UNESCO
Formada em Direito das Organizações Internacionais, na Universidade de Sorbonne, a deputada eleita conta com passagens pela Comissão Europeia e UNESCO no currículo. Entre 2008 e 2020, foi adjunta do autarca de Metz, cidade do nordeste de França. É ainda é autora de vários artigos para a Fundação Jean Jaurès, próxima do PS Francês, para o think-tank Ideal Europeu, e desde 2008 é cronista no Lusojornal tendo já escrito tanto sobre a imigração portuguesa como sobre a obra poética de Manuel Alegre.
Comprometida com várias causas, é porta-voz da Associação Cultural Portuguesa de Metz (ACPM), membro emérito de conselhos de administração de associações de Defesa de Direitos Humanos, Cultura e Educação, com missões de consultoria no CASAM (Centro de Acolhimento dos Requerentes de Asilo de Moselle), na Liga dos Direitos Humanos (LDH), e no Clube da UNESCO, no Movimento Europeu.
Consciente de que a sua vida será, a partir de agora, mais "agitada" entre Paris e Lisboa, Nathalie de Oliveira garante não ter receio: "Sempre andei muito entre TGV e aviões. Este é mais um desafio. Não sou emigrante, represento uma geração inteira que se sente portuguesa e que queria participar na vida de Portugal e isso vai transformar o meu mandato", conclui.
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