Um novo centro
A estabilidade e a governabilidade não são um fim em si mesmo, importando, por isso, que desta escolha clara dos portugueses resulte um bom governo, inovador, eficaz e, sobretudo, preventivo
A estabilidade e a governabilidade não são um fim em si mesmo, importando, por isso, que desta escolha clara dos portugueses resulte um bom governo, inovador, eficaz e, sobretudo, preventivo
O título acima foi cunhado na Alemanha, durante a primeira década deste século, para simbolizar a mudança reformista, no sentido da flexibilidade, da inovação e da concertação social. Com o novo centro, a Alemanha voltou a ser uma grande economia de mercado, fortemente competitiva, mantendo, ao mesmo tempo, uma sociedade aberta e um estado social robusto e equitativo.
Ora, os portugueses acabam de votar numa nova maioria. E também, entre nós, uma nova maioria poderá significar esse novo centro. Um novo centro vital, que desafie as dificuldades e construa moderadamente a mudança. Uma mudança que situe, finalmente, Portugal no século XXI.
É que, no passado dia trinta, mais do que uma lista de medidas ou um programa de reformas, o que esteve em causa na opção política maioritariamente sufragada, foram os valores do estado social de direito, da dignidade humana, da tolerância, da iniciativa privada e da liberdade com responsabilidade. Os valores do centro político moderado de matriz europeia.
Agora impõe-se a pergunta: que fazer com esta nova maioria, sobretudo, quando a confiança depositada nas urnas assenta ainda, para muitos, mais no receio do risco e no apego ao presente do que na esperança num futuro melhor?
Sabemos que a democracia não é, nem nunca foi, uma meritocracia. O campo da política não é o da verdade, mas o reino do conflito de interesses e valores, mediado pela palavra. Porém, a estabilidade e a governabilidade não são um fim em si mesmo, importando, por isso, que desta escolha clara dos portugueses resulte um bom governo, inovador, eficaz e, sobretudo, preventivo. Um governo modesto, robusto e ágil, com os melhores para pôr em prática as melhores políticas.
Um governo que se comprometa, preservando as suas naturais diferenças, a lutar pela melhoria da vida de todos os portugueses; integrar em vez de excluir; unir em vez de fraturar; ajudar a criar riqueza nas famílias e nas empresas, fazendo do Estado um fator de promoção e não um obstáculo ao crescimento da economia e à vida em sociedade; garantir confiança na autoridade das instituições e, por fim, mas não menos importante, promover oportunidades para todos, tendo por base a responsabilidade individual onde aos direitos também correspondem deveres.
Um governo com uma nova agenda, com políticas públicas verdadeiramente inovadoras, que ultrapassem os velhos chavões ideológicos, capaz de promover a qualidade de vida dos cidadãos e a eficácia e sucesso das empresas.
Um governo moderado, que ouça, dialogue, mas que não tenha receio de decidir, de enfrentar, com equilíbrio e sensatez, os enormes riscos e desafios que se apresentam no nosso futuro imediato.
Um governo, por fim, que consiga resistir ao canto de sereia do politicamente correto, resistir às tentações das modas intelectuais que só geram a animosidade social e cultural dos cancelamentos e da falsa vitimização.
Em suma, apenas este novo centro, enquanto espaço de prudência e bom senso, onde se cruzem a esperança e a vontade de fazer melhor, pode representar politicamente a complexidade dos nossos dias e evitar a deriva agressiva dos radicalismos, tantas vezes assentes num apelo da tribo, num mero vazio eticamente decadente.
José Conde Rodrigues, Advogado, Professor Universitário
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