Política

BE critica "cultura de impunidade", PCP pede "punição exemplar" de militares da GNR envolvidos em acusações de tortura

BE critica "cultura de impunidade", PCP pede "punição exemplar" de militares da GNR envolvidos em acusações de tortura
LUÍS FORRA

Para Catarina Martins, existe uma "atmosfera de impunidade", que conduz à reincidência dos casos de violência nas forças de segurança. "É preciso retirar quem não está à altura da farda que veste", diz a coordenadora do Bloco. Também o PCP condena "veementemente" estes crimes em Odemira e considera "inaceitável" que os militares da GNR envolvidos se mantenham em funções

A coordenadora do Bloco de Esquerda (BE), Catarina Martins, defendeu que os alegados casos de tortura de imigrantes em Odemira por parte de militares da GNR são "chocantes" e criticou a "cultura de impunidade" que leva a que estas situações sejam crescentes entre as forças de segurança.

"Não é um caso pontual, tivemos casos gravíssimos na PSP, no SEF e agora na GNR. Nós temos em Portugal um problema com as forças de segurança de violência racista. Estamos a falar de jovens agentes que se unem em grupo para agredir imigrantes e isto é um de uma brutalidade, de uma gravidade enorme", afirmou Catarina Martins em declarações aos jornalistas, após a entrega em tribunal da lista de deputados do BE pelo distrito do Porto.

Para Catarina Martins, existe uma "atmosfera de impunidade", que conduz à reincidência dos casos de violência nas forças de segurança. "É preciso retirar quem não está à altura da farda que veste. Não é possível aceitar este tipo de comportamentos", reforçou.

A solução, sublinhou, passa por apostar mais na formação de elementos das forças de segurança e garantir também a devida punição. "É responsabilidade da hierarquia e da tutela seguramente. Quando nós sabemos que há casos reincidentes e as pessoas não são afastadas, significa que a hierarquia e a tutela não estão a fazer o que devem para proteger os cidadãos e as próprias forças de segurança", prosseguiu.

Mas cabe também ao Governo "atuar do ponto de vista político" sobre as condições em que vivem e trabalham os imigrantes, disse ainda Catarina Martins, dando como exemplo os casos de trabalhadores agrícolas imigrantes que vivem em condições precárias em Odemira, que ficaram expostas pela pandemia.

"Chamo a atenção que, em Odemira, temos trabalhadores que são colocados em contentores como se fossem alfaias agrícolas. A desumanização de pessoas migrantes é também um problema", observou.

Questionada sobre a alegada infiltração de elementos da extrema-direita nas forças de segurança, Catarina Martins recusou estarem em causa apenas suspeitas, apontando para relatórios internacionais que revelam que esse é um dos problemas do nosso país.

Comunistas pedem "reflexão" sobre recrutamento e formação de polícias

Também o PCP considerou "inaceitável" que os militares da GNR envolvidos em acusações de tortura a imigrantes em Odemira (Beja) continuem em funções, e defendeu "punição exemplar" e reflexão sobre a seleção destes profissionais.

"O PCP considera que tais comportamentos, que dizem respeito a elementos concretos que não à instituição no seu todo, requerem punição exemplar, mas requerem também que as instituições reflitam sobre a seleção, formação e acompanhamento ao longo do tempo dos profissionais que nelas prestam serviço", refere o PCP, em comunicado.

Os comunistas condenaram "veementemente" estes crimes e consideraram "inaceitável que os envolvidos se mantenham em funções".

Na quinta-feira, a GNR esclareceu que dois dos sete militares que se filmaram a torturar imigrantes asiáticos em Odemira, em 2019, encontram-se a cumprir pena de suspensão decretada pelo Ministério da Administração Interna, enquanto os outros aguardam pelas medidas sancionatórias.

De acordo com a GNR, três dos agentes do Destacamento Territorial de Odemira são reincidentes, depois de terem estado "envolvidos em agressões a indivíduos hindustânicos", em 2018.

O esclarecimento surge após uma investigação CNN Portugal e TVI que deu conta da acusação de sete elementos da GNR de um total de 33 crimes, por humilharem e torturarem imigrantes em Odemira.

Segundo a GNR, os restantes cinco militares aguardam medidas sancionatórias, que são da responsabilidade da Inspeção Geral da Administração Interna (IGAI), entidade que tutela o processo de inquérito que ainda decorre.

Num despacho de acusação de 10 de novembro e ao qual a CNN Portugal e TVI tiveram acesso, o Ministério Público refere que os militares cometiam os atos de tortura "em manifesto uso excessivo de poder de autoridade" e que "todos os arguidos agiram com satisfação e desprezo pelos indivíduos".

De acordo com a investigação, a PJ já tinha recolhido os telemóveis a cinco militares do posto da GNR de Vila Nova de Milfontes, suspeitos de maus-tratos a imigrantes.

Em sete vídeos analisados é possível detetar cenas de violência, insultos racistas, tortura física e humilhação contra vários imigrantes de origem asiática.

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