Um dia depois das diretas, depois de semanas em que muito contestou os efeitos negativos que as eleições internas teriam para o partido, Rui Rio dá meia volta: "Tendo em conta que ganhei e que há uma continuidade, eu reconheço que esta vitória dá um élan muito positivo à minha candidatura a primeiro-ministro e ao PSD em legislativas", disse o reeleito presidente do partido, numa conversa com a SIC Notícias, divulgada no Jornal da Noite. Rio reconhece o que dizia Rangel, mas só em parte: "Se o resultado não tivesse sido este, era muito complicado. Era fazer em 60 dias o que não se conseguiu fazer em muito tempo".
Mas entre o PSD e o PS há igualdade de circunstâncias, garante, em jeito de resposta a Costa, que falou nas divisões laranjas: "Há um PSD dividido porque sai das eleições internas, mas há também um PS dividido, como sabemos, até em torno da sucessão do dr. António Costa".
Agora, em frente. E pela frente Rio tem decisões por tomar. A primeira será sobre as listas de deputados. E sem sair da linha que definiu, neste ponto, o líder insiste: vai decidir "em função de dois critérios: primeiro a competência, depois a lealdade. Os dois pontos muito importantes. Se for chefe de alguma coisa, ter alguém que é competente mas é desleal não serve para nada. Alguém que lhe é muito leal, mas é incompetente, também não serve para nada. Temos de equilibrar".
Porém, Rio não quer afastar todos os que estiveram com Rangel, não por princípio: "Não é se é desleal a alguém por estar com outro", o que vai haver é um julgamento sobre "todo o comportamento, não de agora, mas ao longo da legislatura". Na CNN, pouco mais tarde, acrescentaria: “Não se vai fazer uma limpeza étnica", mas "não podemos ser todos hipócritas. Tenho dificuldade em respeitar quem anda aqui com jogos.”
Para Paulo Rangel, fica a palavra: "Neste momento tem um lugar relevante" em Bruxelas. Lá ficará. Já sobre Carlos Moedas, Rio registou o almoço que teve com o seu adversário: “Tinha sido mais prudente manter-se assim até ao sábado" - leia-se, equidistante. "Mas ninguém se zanga,”, prometeu.
Depois das listas, ou a par, haverá decisão sobre coligações pré-eleitorais: "Na minha cabeça não está completamente decidido. Quero que os outros façam essa reflexão comigo", diz, falando da sua direção - que se mostrou contra há uma semana, numa primeira discussão. A decisão, diz o líder, é sobre uma coligação "com o CDS e também PPM". "Ambas as situações têm vantagens e desvantagens", disse à SIC, sem insistir na sua preferência (que era favorável).
Com o Chega fora da equação ("se eu disse, é o que está"), Rui Rio apela já ao voto útil à direita: "Os eleitores a 30 de janeiro têm de perceber onde está a força para ganhar as eleições. Há quem queira que o PS ganhe e quem queira que o PS perca. O único partido que pode substituir o PS é o PSD. Os eleitores têm de perceber se o voto é no PSD, que é útil, ou num partido mais pequenino, que pode por essa via acabar por permitir que seja o PS a governar".
Já depois das legislativas, Rio - que admitiu viabilizar um governo e Orçamento do PS - não deu certezas de que o inverso aconteça. "Nunca aconteceu na vida, o contrário até é mais fácil - o PSD tem mais sentido de Estado. Mas quero acreditar que o PS tenha evoluído, só tem a ganhar se tiver sentido de responsabilidade". Mas e se o PSD ficar em segundo, que fará Costa? "Não terá condições para reeditar a geringonça", acredita Rio. E ficará ele próprio na liderança do PSD? “Em função das circunstâncias, logo se vê o que é melhor para o partido. Não pensei nisso, nem vou pensar”, respondeu na CNN.
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