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Ex-rioísta, Álvaro Almeida salta da lista de deputados do PSD. Outros podem ser empurrados: “Roma não paga a traidores, vamos ter memória”

Ex-rioísta, Álvaro Almeida salta da lista de deputados do PSD. Outros podem ser empurrados: “Roma não paga a traidores, vamos ter memória”

Apoiante de Paulo Rangel nas diretas, o ex-candidato à Câmara do Porto e deputado com a bênção de Rio em 2019 defende que não faria sentido integrar as listas às legislativas, se não concorda com a linha vencedora das eleições internas. No topo das estruturas do PSD/Porto há outros ex-apoiantes de Rio que podem não ter lugar. Líder já afirmou que não prometeu lugares, mas não quer ser ingrato. Há quem lembre que "Roma não paga a traidores"

Ex-rioísta, Álvaro Almeida salta da lista de deputados do PSD. Outros podem ser empurrados: “Roma não paga a traidores, vamos ter memória”

Isabel Paulo

Jornalista

“O PSD escolheu noutro sentido que não o dos valores que defendo”, afirma Álvaro Almeida, até sábado “convicto” que Paulo Rangel era o melhor candidato à liderança do PSD e a melhor alternativa para o país nas eleições legislativas de 30 de janeiro.

O deputado que entrou em rota de colisão com Rui Rio devido à falta de debate interno e diálogo com a bancada social-democrata é a primeira baixa anunciada na lista de deputados pelo círculo do Porto, que amanhã será fechada pela Concelhia local e entregue de imediato à Distrital 'laranja', uma e outra estruturas afetas à candidatura derrotada nas diretas deste sábado.

Ao Expresso, o deputado justifica a decisão de sair pelo próprio pé por não concordar “com a estratégia” política de Rui Rio para o partido e para o país. “O PSD escolheu uma linha que não é a minha, por isso não faria sentido manter-me num grupo parlamentar na atual conjuntura”, diz Álvaro Almeida, frisando que “devem ser outros a protagonizar a ida a votos” nas próximas legislativas.

Questionado se já informou Rui Rio da sua decisão, o docente da Faculdade de Economia da Universidade do Porto, militante do PSD a convite de Rui Rio após a corrida autárquica de 2017, adianta que não. “Manifestei a minha indisponibilidade junto de quem tinha de o fazer”, refere sem, contudo, nomear quem, nem esconder que a sua vontade “seria diferente” para voltar a exercer a função de deputado se Rangel fosse o vencedor. “Aí estaria a defender os valores em que acredito”.

Em entrevista ao Expresso no verão passado, o deputado desavindo com a direção do partido afirmou que Paulo Rangel seria o seu candidato, caso fosse candidato à Câmara do Porto - convite de Rio que declinou -, sustentando que o eurodeputado tem “competência política para qualquer cargo”.

Álvaro Almeida figurou em 8º lugar na lista de deputados pelo círculo do Porto em 2019, encabeçada pelo jovem debutante Hugo Carvalho e com Rui Rio no segundo lugar, marcadas na altura pela polémica devido ao afastamento de debutados crónicos ou colocados em lugares dificilmente elegíveis. Há dois anos, dos 89 deputados com assento parlamentar em 2015, 49 ficaram fora das listas.

Lealdade é um dos critérios das listas

No caso do Porto, entre os estreantes contaram-se Alberto Machado, então líder da Distrital do PSD do Porto e o presidente da Concelhia de Gaia, Cancela Moura, um e outro fiéis a Rui Rio, agora apoiantes jurados de Paulo Rangel. Ao que o Expresso apurou junto de fontes do partido local, são dois dos nomes que “dificilmente terão o visto” da Comissão Política Nacional.

“Admito que a caneta não penda para o nome deles”, comenta fonte do partido, que preconiza que a Comissão Permanente da Distrital do PSD/Porto “passou todos os limites" ao declarar publicamente o seu apoio a um dos candidatos sem legitimidade para o fazer, dado não terem sido mandatados para tal pelos militantes de base”.

O alegado abuso por parte de Alberto Machado e Cancela de Moura, entre outros líderes distritais que declaram apoio a Rangel e viram os 'seus' militantes de base a votar em contramão, estará a ser avaliado como “uma traição” nas hostes locais leais a Rui Rio, não só por “ingratidão”, mas por o apoio ter sido firmado sem auscultar os militantes, que, no Porto, distrito e concelho, “até votaram expressivamente em Rui Rio”.

“Roma não paga a traidores. Vamos ter memória”, remata a mesma fonte, embora distinga entre adversários que têm sido “consistentemente defensores de outras candidaturas, mas colaborantes e com sentido de dever com as estruturas eleitas do partido” e os que “mudam de camisola só porque julgam que é do outro lado que está o ganho”.

As listas vão ser entregues ainda antes do fim de semana à Comissão Nacional, a tempo de serem “discutidas, negociadas e revistas” antes do Conselho Nacional de 7 de dezembro, em Évora, para aprovação final.

Em entrevista à TSF esta segunda-feira, Salvador Malheiro - que coordenou a campanha interna de Rio - afirmou que as listas ainda estão “numa fase embrionária”, não ter dúvidas que o presidente do PSD colocará em primeira linha de prioridade “os mais competentes e que reúnam o reconhecimento por parte da sociedade civil". Mas também notou que "a lealdade e a solidariedade com a direção também contam”.

Uma advertência que vai ao encontro do que pensa Rui Rio, quando garantiu no discurso de vitória nada ter prometido: “Não disse a ninguém que se votasse em mim tinha o lugar A ou B. A única coisa que as pessoas sabem é que não sou ingrato”.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: IPaulo@expresso.impresa.pt

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