Derrotado no Conselho Nacional de 14 de outubro, em que pedira o adiamento das eleições diretas, Rui Rio volta à carga. Numa carta aos militantes do PSD, o presidente dos sociais-democratas repete os argumentos que então o levaram a rejeitar a data de 4 de dezembro, que ele próprio marcara. Isto sucede cinco dias antes de estar agendado novo Conselho Nacional, para o próximo sábado.
Rio sente-se reforçado pela consumação da crise política cuja possibilidade já então antevia, e que o levara a fazer o pedido de mudar a data da disputa interna. Este foi rejeitado por cerca de 70% dos conselheiros, apesar de o líder ter maioria teórica naquele órgão, o mais importante do partido entre congressos.
A missiva enviada esta segunda-feira aos sociais-democratas lembra essa votação, afirmando que a maioria do Conselho Nacional decidiu manter as diretas de 4 de dezembro e o congresso em janeiro “afirmando que jamais haveria eleições legislativas antecipadas”, fazendo-o “contra a opinião” da chefia do partido.
Em tom autoelogioso, a carta afirma que a direção laranja “prudentemente, avisou que podíamos ter uma crise política, e que, por isso mesmo, propôs que se esperasse pelo fim da votação do Orçamento do Estado para, depois, se marcar a data das eleições internas, em função do que viesse a suceder”
Focados no país e não na São Caetano à Lapa
Com a Assembleia da República à beira da dissolução, que o Presidente da República prometeu desencadear em caso de chumbo do orçamento, Rio considera que as legislativas antecipadas são “uma excelente oportunidade para o PSD aproveitar o bom resultado das autárquicas e ganhar essas eleições”.
Urge, lê-se na carta, que os sociais-democratas estejam “unidos e totalmente focados no combate”, para substituir “uma governação totalmente à esquerda por uma outra mais moderada”. Não quer, por isso, lançar agora a disputa interna, embora o candidato Paulo Rangel já esteja no terreno. Chamar os laranjas às urnas em dezembro é opção que “parece afigurar-se totalmente desajustada das circunstâncias que o País está a viver e dos objetivos que o PSD deve prosseguir”, afirma.
Pedindo respostas por email, Rio explica o envio da mensagem para que cada companheiro de partido “possa pensar sobre este importantíssimo momento que o país e o PSD estão a viver”. Insiste que “os portugueses esperam do PSD uma alternativa clara e credível ao PS” e não “um PSD virado para uma disputa interna, enquanto o PS e o Governo vão fazendo livremente a sua campanha”.
Potencial parceiro também está em guerra civil
A carta surge dias depois de o CDS, putativo parceiro do PSD numa solução de Governo alternativa à de António Costa, ter entrado em grave discórdia interna a respeito do mesmo assunto. O líder dos democratas-cristãos, Francisco Rodrigues dos Santos, conseguiu na sexta-feira passada que o Conselho Nacional do CDS anulasse o congresso previsto para final de novembro, em que travaria razões com Nuno Melo pela chefia do partido.
Melo acusou a chefia do CDS de golpe e prometeu recorrer à justiça, até porque o órgão de jurisdição do partido considerara a convocatória do Conselho Nacional irregular e nula. Na sequência da reunião e da decisão nela tomada — que “Chicão” justificou com a crise e por o seu mandato à frente do CDS terminar no fim de janeiro —, vários militantes de renome, incluindo ex-governantes, abandonaram o partido.
Entre os que entregaram o cartão estão António Pires de Lima, Francisco Mendes da Silva, Vânia Dias da Silva, Michael Seufert, Inês Teotónio Pereira ou Manuel Castelo Branco. O conselheiro de Estado António Lobo Xavier afirmou não ter vontade de recomendar o voto no CDS nas legislativas antecipadas e o deputado João Almeida, adversário de Rodrigues dos Santos na corrida à liderança em 2020, anunciou que vai sair do Parlamento.
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: pcordeiro@expresso.impresa.pt