"Na fase em que estamos, ou há compromissos concretos, ou o anúncio de intenções serve de pouco". As palavras são de João Oliveira, líder da bancada parlamentar do PCP que, em entrevista à Antena 1 deixou ainda claro que os comunistas querem ver a questão do próximo Orçamento de Estado resolvida na votação na generalidade. Isto é, na próxima semana.
Logo na primeira pergunta, feita pela editora de Política da Antena 1, Natália Carvalho, o líder da bancada parlamentar do PCP até admitiu que existiram avanços nas negociações orçamentais com o Governo. Um dia depois do primeiro ministro ter reunido com a delegação comunista, João Oliveira reconheceu que "tivemos oportunidade de analisar de forma mais alargada, o conjunto de propostas que o PCP tinha avançado". Mas o regresso às matérias que afastam comunistas e socialistas de um compromisso, e a "profundidade" com que os temas regressaram à mesa de negociações, não foram motivos suficientes para se vislumbrar um entendimento.
"Há uma resistência da parte do Governo e uma recusa em considerar o conjunto de questões que nós levantamos", disse e reafirmou João Oliveira, ao longo da entrevista. Além do mais, ficou claro que em temas considerados essenciais pelos comunistas - como o aumento de pensões, a gratuitidade das creches e o aumento de salários - a posição do Executivo "não coincide com a abordagem do PCP nessas matérias". Ou seja, as distâncias ainda são profundas e João Oliveira assume mesmo que os socialistas mudaram de atitude nas atuais negociações. "Não se aproxima da abordagem que o Governo fez em anos anteriores", sublinha o líder parlamentar comunista.
Countdown até dia 27
Os sucessivos apelos lançados pelo primeiro-ministro para um entendimento com os parceiros de esquerda, assim como o esforço de promover negociações de última hora parece não fazer alterar a posição do PCP. Se é verdade que João Oliveira admite que "ainda há espaço e tempo", o certo é que os comunistas estão a transferir o ónus da responsabilidade inteiramente para as mãos de António Costa e colocam a meta para uma decisão final já no dia 27 de outubro, data marcada para a votação, na generalidade, do OE para 2022 .
O prazo de uma semana é o limite dos comunistas para o Governo passar das palavras aos actos. "O Governo tem a faca e o queijo na mão" e para João Oliveira "o anúncio de intenções não serve de muito". Chegados a este ponto, são necessários "compromissos concretos" e as matérias sobre as quais é preciso mostrar abertura são já sobejamente conhecidas pelos membros do Executivo. Os comunistas deixam ainda claro que, ao contrário do que sucedeu no ano passado, a posição da bancada parlamentar do PCP ficará fechada já na votação do OE na generalidade. "Ou há uma clarificação, ou é muito difícil ponderar a hipótese de uma ida à especialidade", disse João Oliveira.
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