Política

Paulo Rangel eleva a fasquia do PSD: “Trabalhar para a maioria absoluta”

Paulo Rangel eleva a fasquia do PSD: “Trabalhar para a maioria absoluta”
TIAGO MIRANDA

“Temos todas as condições para ter uma maioria de 42% ou 43%”, apontou em entrevista à TVI o candidato à liderança do PSD. Paulo Rangel promete unir o partido para depois atacar o PS, admite coligações com o CDS e com a Iniciativa Liberal mas não com o Chega e revela que falava “todos os meses com Passos Coelho” sobre política europeia. E diz que “debilitante para o PSD” seria “apresentar-se a eleições” sem o líder e o partido irem “reforçados e legitimados”

Paulo Rangel eleva a fasquia do PSD: “Trabalhar para a maioria absoluta”

Vítor Matos

Jornalista

Paulo Rangel pôs a fasquia elevada. Nem Rui Rio o fez, nem sequer Pedro Passos Coelho estabeleceu esse objetivo com esta clareza: a maioria absoluta. O candidato à liderança do PSD ainda não se sabe contra quem - Rui Rio ainda não decidiu e Jorge Moreira da Silva ainda está à espera - e foi recuperar a experiência de Cavaco Silva nos anos de fragmentação política da década de 1980 para dizer que, se não tiver maioria num primeiro momento, pode "ir buscar essas condições depois". E apontou para um resultado numérico específico, o tipo de cenarização a que os líderes políticos costumam fugir: "Temos todas as condições para uma maioria de 42% ou 43%. Se isso não acontecer também há condições para depois se ir buscar".

Na sua primeira entrevista depois de apresentar a candidatura à liderança do partido - na TVI, estação onde foi comentador político -, o eurodeputado voltou afastar entendimentos com o Chega ao dizer que "o Governo do PSD nunca será feito com um partido radical, seja de direita seja de esquerda", embora não tenha hesitado em falar na possibilidade de coligações preferenciais, primeiro com o CDS e depois com a Iniciativa Liberal.

Apesar de o PSD (em conjunto com o CDS) ter perdido cerca de um milhão de votos entre as legislativas de 2011 e as de 2019, Rangel aparece com um discurso que procura inverter a ideia de que desde a 'geringonça' (e do aparecimento do Chega) se tornou impossível ao centro-direita: conseguir uma maioria absoluta. "O PSD é um partido de vocação maioritária", assumiu." E depois deu a receita: "[É possível] se fizermos a agregação interna, uma oposição dura, veemente e responsável, e apresentar uma alternativa que dê esperança aos portugueses." O eurodeputado disse as palavras proibidas, que nem António Costa pronunciou desta maneira em favor do PS nas últimas duas edições de legislativas: "Trabalhar para a maioria absoluta, ser maioritário e fazer acordos ou coligações, com o CDS ou a Iniciativa Liberal, se for o caso", afirmou Rangel.

Depois calibrou um pouco o discurso: "Neste momento o PSD não consegue [maioria]. Mas já conseguiu muitas vezes no passado. Não é nenhuma impossibilidade. É um discurso que tem de ir do centro-esquerda até à direita moderada".

Falava "todos os meses com Passos Coelho" sobre política europeia

A entrevista começou pela questão da homossexualidade, tema que Paulo Rangel deu como "um capítulo que está encerrado" e jurou que não vai "falar mais" da sua "vida pessoal". Como dizem os ingleses, "foi one shot". Ainda assim, questionado sobre a necessidade de um possível líder político ter de falar do assunto, admitiu: "Normal não será, já devíamos estar noutro estádio, mas também não vejo nenhum problema nisso".

O candidato, que avança num contexto em que Passos Coelho era tido como a figura federadora da direita, não revela se falou com o ex-líder sobre a sua candidatura mas deu a entender que não lhe queria causar esse embaraço, uma vez que os antigos presidentes do partido não se costumam envolver nas disputas internas: "Deixo-o com as mãos completamente livres". No entanto, recordou que, apesar de terem sido adversários em 2010, "praticamente" falava sobre política europeia com Passos Coelho "todos os meses" em São Bento e depois na sede do partido quando o PSD passou para a oposição.

Quatro dias depois de ter apresentado as linhas-mestras da candidatura, voltou a sublinhar que a "agregação" de correntes e de personalidades é um dos seus compromissos: "Não preciso da tutela de ninguém para conseguir a agregação, a congregação e a unidade das várias correntes" do partido, que devia ter sido feita por Rui Rio "em 2019 e em 2020" depois de Luís Montenegro ter sido derrotado. E fez questão de se anunciar magnânimo em caso de vitória, não se sabe ainda bem sobre que adversário(s): "O meu objetivo é convidar os meus adversários, agregá-los e mostrar um PSD unido", mesmo que agora haja "debate, discussão e alguma conflitualidade".

"O país não perceberia se entrássemos em crise política"

Com a crise política do Orçamento do Estado a agitar as águas nos últimos dias e a contaminar a vida interna do PSD, Paulo Rangel continua a dizer o que afirmou ao Expresso este sábado: que "a crise política é muito pouco provável", embora haja "coisas que não se podem excluir liminarmente". O PSD não deve servir de muleta para o Orçamento passar, o PS deve procurar esse apoio à esquerda, mas adianta que "o país não perceberia que entrássemos em crise política".

Quanto à sobreposição de calendários entre as eleições internas do PSD e a possibilidade de legislativas antecipadas, Rangel mantém e reforça a ideia de que venceu contra Rui Rio no Conselho Nacional da semana passada: "Mesmo que houvesse uma crise política isso não devia alterar o curso de o PSD fazer uma clarificação interna", disse Rangel. Rui Rio acha o contrário e faz disso ponto de honra. Mas o eurodeputado viu Paulo Portas - que costuma ser contido nos comentários da TVI - usar a mesma ideia que ele próprio passou antes de entrar na reunião do Conselho Nacional de quinta-feira: "No dia em que a oposição entregar ao primeiro-ministro a definição dos seus próprios calendários, o melhor é concluirmos que não temos oposição", disse Portas na TVI. É a tese de Rangel.

Líder deve ir legitimado a eleições

Em resposta a Rio, que considera que o PSD vai debilitado a legislativas se estas forem antecipadas, Rangel devolveu o argumento mas ao contrário: "Estamos em eleições normais, não estamos num processo excecional", evidenciou. E acrescentou que "debilitante para o PSD" seria "apresentar-se a eleições" sem o líder e o partido irem "reforçados e legitimados". Ou seja: se não houvesse diretas e Rio se apresentasse como líder a legislativas sem ter sido aprovado pelo partido, não teria a mesma legitimidade para apelar ao eleitorado e defrontar os adversários. É a tese do golpe palaciano ou da intentona, dos seus apoiantes, sem usar essas palavras.

Paulo Rangel referiu que o calendário com as diretas no PSD a 4 de dezembro é viável, tendo em conta os passos que o Presidente da República tem de dar até convocar as eventuais eleições. Mais um recado para Marcelo, como o Expresso noticiou esta edição: "Se olhar para os casos em que houve dissoluções recentes, em todos o PR ouviu os partidos, o Conselho de Estado, depois anunciou que ia dissolver, depois deu um tempo para os partidos se organizarem. Não há nenhum risco de não permitir que o PSD tenha um candidato forte".

Mais do que isso, o congresso, que terá lugar em janeiro, seria "um grande momento de afirmação do programa e de afirmação política" do partido. Um megacomício de três dias com cobertura mediática assegurada em plena pré-campanha...

Sobre Rui Rio, diz que tem por ele "respeito pessoal e político" com base numa relação de 20 anos e que teria "o maior gosto" em disputar as eleições com ele. "Do meu lado não há uma visão pessoal, o que há é um projeto diferente. O PSD tem de fazer uma oposição mais firme, mais efetiva e apresentar uma alternativa aos portugueses." Rangel voltou a criticar o fim dos debates quinzenais, proposto por Rio - "uma questão de democracia" -, e garantiu que ia fazer do grupo parlamentar o seu "braço armado". Embora sem estar no hemiciclo, prometeu uma presença assídua no Parlamento: "Vou usar o meu gabinete, reunir-me com todos os deputados e definir as estratégias com eles". Para ter uma estratégia, ao contrário do atual líder, e deixar de estar "à espera que o Governo caia".

Rangel quer cortar com o centro radical de Rio, recuperar votos à direita e ganhar eleições. Nunca falou de entendimentos de regime com o PS. A fasquia está mais alta. Falta agora saber quem vai desafiar este posicionamento.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

Comentários
Já é Subscritor?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate