Com as eleições à vista, o tom dos discursos da campanha da CDU mudou. Está cada vez mais direto e muito mais duro em relação ao adversário direto. PS, Governo e primeiro ministro estão na mira. Em todas as intervenções, tanto o secretário geral comunista como os vários candidatos autárquicos aproveitam o tempo de antena para lançar rajadas de tiros contra os socialistas.
Há apenas três dias, Jerónimo de Sousa recusou-se a fazer qualquer comentário ao aviso, feito pela Comissão Nacional de Eleições ao primeiro ministro, para que respeitasse o dever de neutralidade nestas eleições. Em causa estavam os fundos da bazuca europeia, usados como arma de propaganda eleitoral por Costa e muitos dos candidatos socialistas. Mas, se no sábado, o secretário geral do PCP achava esta "uma pergunta ao lado", porque os jornalistas deviam dedicar atenção exclusiva ao Centro de Experimentação Artística do Vale de Amoreira, esta segunda feira as prioridades alteraram-se.
Três dias e algumas centenas de quilómetros depois, já com a campanha eleitoral à beira do fim, Jerónimo mudou o registo, o foco de atenção e o alvo de ataque. Em Santiago do Cacém, na terceira ação do dia de campanha, foi o próprio Jerónimo a rapar do tema e a assumir que era "inaceitável" o uso e abuso dos meios do Estado para fins políticos do PS. "A mistura do aparelho do Estado com o aparelho partidário" fazia com que os socialistas, "no poder local ou no Governo" andassem a "agitar os milhões do PRR para levar ao engodo os eleitores".
O que era ao lado, passou para o centro. Os comunistas passaram a "exigir que seja mantida a imparcialidade e a neutralidade exigidas por lei" e até começaram a ver aumentada a "arrogância e sobranceria do Governo e do PS", lembrando até "os tiques de má memória dos Governos do PSD e CDS".
Com a meta da corrida autárquica a aproximar-se, Jerónimo de Sousa não quer ficar para trás e os comunistas tudo fazem para recuperar terreno. E, se é verdade, que o líder do PCP foi o último dirigente partidário a pronunciar-se sobre esta polémica, também é certo que foi o que usou um tom mais forte. Assumiu tratar-se de um "abuso" e não teve pejo em denunciar que existem "candidatos do PS" e socialistas em exercício de cargos públicos, nomeadamente em centros de emprego e de segurança social, que usam a influência política (ou os fundos europeus que aí vêm) para prometer "apoios, empregos e o que mais possa condicionar a livre opção dos eleitores" para a caça aos votos.
"Engonhar", "empurrar com a barriga" e "atrasos e mentiras"
A batalha autárquica "é de grande importância", diz e repete o líder comunista, que também não se cansa de sublinhar que tem "confiança num bom resultado", mas isso "não nos pode fazer descansar". Depois de, há quatro anos, terem perdido dez Câmaras (nove delas para o PS), todas as cautelas são poucas e o crescendo de entusiasmo, de "promessas de mundos e fundos" ou a "sobranceria" que vem dos lados das hostes socialistas estão a levar a um contra-ataque da CDU.
Nos últimos dias, Jerónimo vai pautando o seu discurso com bicadas a António Costa, ao Governo e ao PS, acusados "usar palavras redondas para iludir as cumplicidades com o PSD e CDS", de "empurrar com a barriga" as propostas que os comunistas levam às negociações parlamentares e até de não ter "seriedade" nas atitudes que toma. Esta segunda feira à noite, em Alcácer do Sal assumiu mesmo que há "incumprimento" do Governo nas matérias inscritas no atual Orçamento de Estado por iniciativa do PCP. "Tudo o que o Governo tinha de executar foi feito, mas em quase tudo o resto há atrasos e mentiras", disse Jerónimo.
O líder não está sozinho nesta guerra contra o PS. Nos últimos três dias, vários candidatos autárquicos da CDU têm disparado também contra o mesmo alvo, ora para dizer que o Governo "penaliza" as Câmaras comunistas na distribuição de fundos europeus. Foi o caso de Rui Garcia, presidente e recandidato à Moita. Em Odivelas, Painho Ferreira não teve dúvidas em afirmar que "o PS anda a engonhar" na resposta aos problemas da autarquia e às propostas que os comunistas apresentam na assembleia municipal. E ainda esta segunda feira, Jaime Cáceres, candidato à Câmara de Sines pela CDU não tinha dúvidas em afirmar que o executivo socialista da autarquia sofria "de uma patologia grave por falta de planeamento" que se traduzia no "abandono e desmazelo" do município.
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