Política

Câmara de Lisboa: Volt lamenta partilha de dados pessoais de “vice” do partido, que participou em vígilia pela saída do Reino Unido da UE

Câmara de Lisboa: Volt lamenta partilha de dados pessoais de “vice” do partido, que participou em vígilia pela saída do Reino Unido da UE
TIAGO MIRANDA

Em junho deste ano foi tornado público que o município de Lisboa fez chegar às autoridades russas os nomes, moradas e contactos de três ativistas russos que organizaram em janeiro um protesto, em frente à embaixada russa em Lisboa, pela libertação de Alexey Navalny, opositor do Governo russo

O Volt Portugal anunciou esta segunda-feira que os dados do vice-presidente do partido foram partilhados sem consentimento com a embaixada do Reino Unido, lamentando a situação e classificando como "insuficientes e tardias" as medidas tomadas pela Câmara de Lisboa.

Numa nota enviada às redações, o Volt Portugal aponta que "já tinha alertado" que a conduta da Câmara de Lisboa "tinha posto em risco a vida e a segurança dos cidadãos envolvidos em protestos", na sequência do caso da partilha de dados pessoais de ativistas russos com a embaixada da Rússia em Portugal pelo município de Lisboa.

Recentemente, adianta o partido, o vice-presidente do Volt, Mateus Carvalho, "foi informado que os seus dados tinham sido, sem o seu consentimento, partilhados com a embaixada do Reino Unido".

Segundo o partido, o mesmo ocorreu no seguimento de uma vigília organizada no dia 31 de janeiro 2020 pelo Volt e os seus membros para assinalar a saída do Reino Unido da União Europeia.

"Se por um lado é de congratular que os visados por esta partilha ilegal de dados estejam a ser contactados, o que este telefonema e email da Câmara me demonstra é que ao final do dia a proteção de dados e dos manifestantes se resume a vontade política. Se quisessem, poderiam tê-lo parado há anos", argumenta Mateus Carvalho, citado no comunicado.

Para o partido, "esta e todas as outras partilhas foram feitas em clara violação do Regulamento Geral de Proteção de Dados, conforme confirmado pela acusação endereçada pela Comissão Nacional de Proteção de Dados [CNPD] ao Município de Lisboa", considerando ainda que as soluções apresentadas pelo atual presidente, Fernando Medina, "são claramente insuficientes, tardias, não atendem à ilegalidade dos atos e demonstram uma total desconsideração pela segurança e vida das pessoas cujos dados pessoais foram partilhados".

Neste contexto, o Volt Portugal exige que "seja ordenada uma auditoria externa e independente" à CML, "com total acesso a toda a documentação, sistemas informáticos e demais informação que se prove necessária", apontando que a auditoria interna, "ainda que tenha sido um passo importante, não assegura a independência e imparcialidade" necessárias.

O partido quer ainda que "todos os factos apurados pela auditoria sejam reportados às autoridades competentes entre as quais a Comissão Nacional de Proteção de Dados", a "imediata implementação pela Câmara de Lisboa de todas as medidas que a CNPD considerou estarem em falta", a emissão de "um pedido de desculpas público" por Medina a todos os cidadãos afetados bem como o "pagamento de montantes compensatórios".

Em junho deste ano foi tornado público que o município de Lisboa fez chegar às autoridades russas os nomes, moradas e contactos de três ativistas russos que organizaram em janeiro um protesto, em frente à embaixada russa em Lisboa, pela libertação de Alexey Navalny, opositor do Governo russo.

Quando o caso foi noticiado, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa pediu "desculpas públicas" pela partilha desses dados, assumindo que foi "um erro lamentável que não podia ter acontecido".

Em 2018, entrou em vigor o novo Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados (RGPD), mas, no "esforço substancial de adaptação" do município, o procedimento de tramitação de avisos de manifestações "não sofreu adaptações", explicou então Fernando Medina.

Segundo as conclusões de uma auditoria da CML, desde 2012 foram comunicadas à Câmara de Lisboa 7.045 manifestações.

"No total, foram remetidas 180 comunicações de realização de manifestação junto de embaixadas, 122 anteriores à entrada em vigor do RGPD e 58 após. Depois da entrada em vigor do RGPD, ou seja, para o período de maio de 2018 a maio de 2021, foram considerados como tendo sido enviados dados pessoais em 52 dos processos", lê-se no documento.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

Comentários
Já é Subscritor?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate