Política

Bloco abandonou "cordialidade" com o PS. Agora é ao ataque

O tom de Catarina Martins e da liderança do Bloco em relação ao PS agora é outro: mais duro
O tom de Catarina Martins e da liderança do Bloco em relação ao PS agora é outro: mais duro
Rui Duarte Silva

Na última Convenção, a líder bloquista ainda acreditava na "cordialidade" com os socialistas. Mas, em três anos, o discurso de Catarina Martins face a António Costa mudou radicalmente. Agora não tem dúvidas de que o PS "mudou os dados da política" e não fez "o que tinha de ser feito". Por isso, o Bloco passou ao ataque direto e sem tréguas

"O Governo gaba-se" e "o Bloco critica-o", diz Catarina Martins. O retrato, deixado pela líder bloquista no arranque da nova Convenção, mostra que "o País foi atropelado", os contribuintes "assaltados" e o PS não encontrou "nada mais importante do que atacar a esquerda". Fica muito pouco, ou mesmo nada mais a dizer sobre o fim da Geringonça. O Bloco passou à oposição a António Costa e se os socialistas mudaram "os dados da política", "é a sua escolha, nós abriremos outra porta", promete Catarina Martins..

Uma mudança completa de tom e de discurso. Há três anos, quando a pandemia não se vislumbrava no horizonte e o Bloco ainda se imaginava a ensaiar os novos passos de uma nova geringonça, Catarina Martins encerrava uma Convenção com luva branca a lidar com o PS e com o Governo de António Costa.

Na altura, e com as eleições Legislativas de 2019 à vista, o Bloco ainda sonhava com voos políticos mais altos. Mariana Mortágua admitia que o partido estava “pronto” para ser Governo, Pedro Filipe Soares queria levar “o sonho ao poder” e Catarina Martins prometia “fazer o que todos nos dizem que ninguém conseguiu”. As perspectivas de uma nova subida eleitoral deixava “tudo em aberto”, até mesmo ser Governo “quando o povo quiser”, avisou a líder.

O otimismo prosseguia, mesmo se já pairavam no ar sinais de afastamento do PS face aos seus antigos parceiros políticos. António Costa tinha fechado o Congresso socialista sem uma única referência ao PCP ou ao Bloco, mas a líder bloquista não pagou com a mesma moeda. “Prefiro a cordialidade”, disse no encerramento da sua Convenção de 2018, sempre deixando entreaberta a porta para futuros entendimentos.

As eleições Legislativas vieram trocar as voltas políticas: o PS reforçou peso eleitoral, capitalizando à esquerda os sucessos da geringonça. E, no Parlamento, os antigos parceiros foram ganhando distância e cerrando fileiras.

Isso mesmo se nota logo no arranque da Convenção bloquista. A "cordialidade" de Catarina Martins para com o PS chegou ao fim. E, se Costa trata o Bloco como "um empecilho", a líder já encontrou uma alternativa: "abriremos outra porta". Qual? Não explicou. Por enquanto, passou ao ataque, deixou a luva branca e prepara-se para calçar as luvas de boxe.

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