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Costa contra ideia de Cabrita: eleições autárquicas divididas em dois dias é ideia "sem sentido"

Costa contra ideia de Cabrita: eleições autárquicas divididas em dois dias é ideia "sem sentido"
RODRIGO ANTUNES / Lusa

A hipótese levantada pelo ministro Eduardo Cabrita de dividir a realização das eleições autárquicas em dois dias seguidos, ou em dois fins de semana seguidos, não sobreviveu à Comissão Nacional do PS. O secretário-geral socialista disse não perceber o porquê de se colocar essa possibilidade: "É perigoso". Mais: Costa deixou claro que o congresso socialista não será totalmente presencial, mas sim misto, porque o PS não pode fazer o mesmo finca-pé que o PCP fez aquando da realização do seu congresso em novembro. "Teria um custo político muito alto", disse.

Costa contra ideia de Cabrita: eleições autárquicas divididas em dois dias é ideia "sem sentido"

Liliana Valente

Coordenadora de Política

Costa contra ideia de Cabrita: eleições autárquicas divididas em dois dias é ideia "sem sentido"

Rita Dinis

Jornalista

À porta aberta, António Costa afinou a mira a PSD e CDS por fazerem coligações apenas para enfraquecer o PS, à porta fechada acabaria por acertar o tiro no ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita. Aos socialistas, que se juntaram esta tarde digitalmente na Comissão Nacional, António Costa recusou a ideia de dividir as eleições autárquicas em dois fins de semana (ou dois dias), considerando a ideia "perigosa", segundo relataram ao Expresso fontes presentes na reunião.

A ideia tinha sido admitida por Eduardo Cabrita em entrevista à agência Lusa na sexta-feira, quando admitiu que o Governo estava a estudar modelos e que “a distribuição do voto entre dois fins-de-semana [é] perfeitamente possível”.

Aos socialistas, numa segunda intervenção que fez na Comissão Nacional, António Costa disse que a ideia de realizar as eleições em dois dias ou dois fins de semana seguidos era "perigosa" e que até nem fazia sentido porque tanto as eleições regionais dos Açores como as eleições presidenciais (que se realizaram no pico da pandemia) mostraram que era possível fazer uma votação em segurança.

A ideia de autárquicas divididas, ao que o Expresso apurou, acabou por ser um dos temas em debate pelos socialistas, com várias intervenções a contestar a possibilidade levantada por Eduardo Cabrita.

Os socialistas estiveram reunidos este sábado para debaterem não só a situação política atual, como a forma como decorrerá o próximo congresso nacional. Neste ponto, o secretário-geral socialista disse que o congresso não pode decorrer como habitualmente porque, estando o país a lutar contra a pandemia, não iria perceber que o congresso, que se realiza no verão, decorresse totalmente de forma presencial. Para Costa, fazê-lo teria um "custo político muito alto" para o PS que não pode fazer o mesmo finca-pé que o PCP fez com o seu congresso.

Essa decisão do PS acabou por ficar expressa no modo como o partido vai realizar as suas eleições internas. Haverá voto antecipado por via eletrónica para a eleição do secretário-geral, delegados ao congresso e Presidente e Comissão Política Nacional das Mulheres Socialistas, nos dias 11 de junho de 2021 e a 18 e 19 de junho de 2021 por voto presencial. O Congresso realiza-se nos dias 10 e 11 de julho de 2021 em 13 locais distintos.

Costa contra "jogadas políticas" nas autárquicas

António Costa não quer ouvir falar de "jogadas políticas" nas autárquicas em plena pandemia e resposta à crise social, mas, já falando, acusou o PSD e o CDS de estarem mais empenhados em enfraquecer o Governo do que em propor ideias para o país e para os municípios que querem tirar das mãos dos socialistas. E garantiu que não ia fazer o mesmo: o PS não se vai "distrair" com essas jogadas e vai estar concentrado em sair da crise.

"Não andamos aqui a correr contra os outros. O PS não se distrai, não confunde aquele que é o seu objetivo e prioridades. E a nossa prioridade não é combater o PSD, o CDS ou o que seja: é servir Portugal", disse, sublinhando que, numa altura de crise pandémica e de crise social, “a última coisa que os portugueses querem ouvir falar é de jogadas políticas”.

Daí que diga que não vai perder tempo a atacar a "direita", que "não tem uma única ideia" para o país. Foi esta a mensagem que António Costa quis passar ao PS na intervenção que fez na abertura da Comissão Nacional, este sábado, onde deu o guião para aquela que deve ser a postura dos autarcas socialistas no combate eleitoral que se segue.«

Pelo caminho, contudo, deixou críticas à direita que o critica. "Não lhes ouvimos uma ideia que seja sobre habitação, sobre a melhoria dos transportes, sobre descentralização, zero. E ainda esta semana vimos o líder do PSD e do CDS juntarem-se a anunciar uma grande coligação, mas uma grande coligação para quê? Para servir Portugal? Não, uma grande coligação para atacar o governo", acusou.

O guião para os socialistas é outro: "combater a pandemia, recuperar o país e preparar o futuro", tendo em conta o peso e a responsabilidade que os autarcas vão ter na gestão da "bazuca" europeia (o PS tem atualmente um total de 160 presidências de câmara do país). "Quase metade das verbas do Programa de Recuperação e Resiliência são verbas que são elegíveis para programas de âmbito municipal", disse, destacando o papel dos municípios nesta recuperação pós-pandemia.

Na intervenção que fez aos socialistas, o também primeiro-ministro alertou ainda para a necessidade de ter atenção "às próximas semanas" no que ao processo de desconfinamento diz respeito -- para não se deitar tudo a perder. "Não é altura de facilitismos, não é altura de dizer que o sol está maravilhoso e vamos aproveitar", disse, lembrando o que aconteceu em vários países da UE, que começaram a libertar-se do confinamento por acharem que o pior já tinha passado e estão agora a "regredir".

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