Política

Dinheiro da ‘bazuca’ antes das férias de verão? Bruxelas diz que sim mas avisa que é preciso acelerar o passo

Dinheiro da ‘bazuca’ antes das férias de verão? Bruxelas diz que sim mas avisa que é preciso acelerar o passo
OLIVIER HOSLET

Comissário da Economia avisa que é preciso acelerar a ratificação da decisão de recursos próprios que permite a Bruxelas financiar-se nos mercados. Só assim a primeira tranche da ‘bazuca’ pode chegar aos cofres nacionais no início do verão, tal como defendeu António Costa

Dinheiro da ‘bazuca’ antes das férias de verão? Bruxelas diz que sim mas avisa que é preciso acelerar o passo

Susana Frexes

Correspondente em Bruxelas

“É do nosso interesse fazer chegar o dinheiro o mais depressa possível, desde que tal não comprometa a qualidade dos planos (de recuperação)", disse esta segunda-feira o comissário europeu da Economia na conferência de imprensa que se seguiu à reunião do Eurogrupo.

Paolo Gentiloni admite que o objetivo de transferir a primeira tranche do Fundo de Recuperação "antes da pausa de verão" é exequível. No entanto, avisa que os países querem o dinheiro antes das férias de agosto têm de “acelerar o processo de ratificação" da chamada “decisão de recursos próprios” e entregar o quanto antes as versões finais dos planos nacionais de recuperação e resiliência.

“Podemos fazê-lo mas é um desafio”, resume, alertando que os “problemas de calendário” não devem ser subestimados. O comissário italiano não diz nomes mas há mais de duas dezenas de países que ainda não ratificaram o processo que permite à Comissão Europeia financiar-se nos mercados, incluindo os Países Baixos e a Alemanha. Portugal está entre a meia dúzia de Estados-membros que já o fez.

António Costa tinha adiantado na sexta-feira que esperava que as primeiras transferências do Mecanismo de Recuperação e Resiliência (MRR) - o maior instrumento financeiro do Fundo - pudessem começar a chegar aos Estados-membros no princípio do verão. Na altura, também o primeiro-ministro reconheceu que é preciso acelerar o processo de ratificação que decorre nos parlamentos nacionais dos 27 Estados-membros. Sem a validação de todos, não há dinheiro.

Já o presidente do Eurogrupo, Paschal Donohoe, não quis falar em datas mas mostrou-se alinhado com Gentiloni. O irlandês referiu a importância do MRR para a recuperação da economia dos países europeus, em particular os da Zona Euro. Reconhece que a situação económica é “séria”. E deu o exemplo do emprego, que está “muito abaixo" de onde deveria estar.

Donohoe sublinhou, por isso, “a necessidade de continuar a proteger os cidadãos”, o que significa manter as medidas de apoio em vigor “enquanto forem necessárias”, dados os riscos de as retirar demasiado cedo.

Quanto à suspensão das regras de disciplina orçamental, a discussão sobre se se deve manter em 2022 está lançada. A Comissão apresenta uma proposta sobre o Pacto de Estabilidade e Crescimento em março, mas será preciso esperar mais alguns meses por uma decisão.

"O nosso objetivo é, até ao verão, alcançar um entendimento comum sobre a postura orçamental apropriada para que possamos orientar as nossas discussões orçamentais para o próximo ano", anunciou Donohoe.

O tema da solvência do tecido empresarial europeu foi também discutido neste Eurogrupo, tendo o seu presidente assumido que “muitos negócios vão precisar de tempo para reparar os seus balanços” e que “infelizmente alguns não serão viáveis a longo prazo”.

Sobre o mesmo tema, Klaus Regling lembrou que a solvência das empresas está intimamente ligada à saúde do sector bancário e das contas públicas dos vários países da zona euro, antevendo-se que possa “influenciar negativamente” o mesmo e “também possivelmente aumentar a dívida pública”.

O responsável pelo Mecanismo Europeu de Estabilidade, o fundo de resgate da Zona Euro, não deixou de recordar a importância da existência de um Mecanismo Europeu de Resolução, criado em resultado da crise das dívidas soberanas de forma a financiar a insolvência de bancos e, assim, prevenir o contágio entre a banca e as contas dos Estados-membros. “Não antevemos que seja necessário mas é bom saber que temos esta salvaguarda”, referiu.

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