Primeiro agradeceu, depois avisou que a luta ainda não tem fim à vista, pelo meio deixou um apelo ao consenso entre especialistas, mas também apresentou a única novidade do novo estado de emergência - os livros escolares vão voltar a ser vendidos nas grandes superfícies comerciais. E mesmo essa, Costa não escondeu que só surge porque "o decreto do Presidente nos proibiu de proibir a venda de material escolar nos supermercados e hipermercados, nos locais que estão abertos. Temos de respeitar o que está no decreto." Desta vez, Costa esforçou-se para que a mensagem fosse à prova de dúvidas: o confinamento está a funcionar, o foco deve estar no cumprimento das restrições e não em pensar no momento da reabertura da sociedade. "O desconfinamento não está no horizonte", disse.
"Graças ao esforço dos portugueses, o confinamento está a produzir resultados. Travámos crescimento de novos casos nestas duas semanas o que se tem traduzido no risco de transmissibilidade: está em 0,77, o mais baixo desde o início da pandemia. É merecido um agradecimento aos portugueses", começou por dizer o primeiro-ministro.
No entanto, as boas novas ficaram-se por aí. Os riscos estão identificados: o número "extremamente elevado" de pessoas em cuidados intensivos, a falta de capacidade de produção das farmacêuticas responsáveis pelas vacinas e o surgimento de mais variantes do vírus, algo que Costa diz que ninguém pode prever.
Com o processo de vacinação em curso, o primeiro-ministro voltou a reafirmar que "não há nenhum atraso nacional", mas sim "um atraso na produção", motivo pelo qual Portugal chegará ao final do trimestre com "menos pessoas vacinadas" que o inicialmente previsto. Ainda assim, a meta de vacinar 70% da população até ao verão é - para já - para manter.
Mas se Costa continua convicto da amplitude do processo de vacinação, quanto ao momento de dar ordem de reabertura do país nem arriscou um palpite. "Infelizmente é muito cedo para começarmos a especular, ouviremos os parceiros, o PR, falaremos com partidos, mas é prematuro, porque pode induzir em erro os cidadãos, no sentido de pensarem que vai começar para a semana ou daqui a 15 dias. Concentremo-nos em continuar a cumprir com determinação" disse o primeiro-ministro para quem "seria extremamente grave estar a discutir as medidas do desconfinamento".
E se a falta de vacinas e as novas variantes do vírus são um problema, outro deixado bem claro pelo primeiro-ministro é a falta de consenso entre os especialistas quanto às medidas a aplicar consoante a evolução dos números. "O apelo que deixei foi um esforço de consensualização sobre os níveis com que as medidas devem ser adoptadas. A ciência é um espaço de debate de opiniões diversas, temos de saber ouvir todos e decidir, mas daria conforto a todos se o consenso científico pudesse ser mais alargado e consensualizado", disse. "Se começar a ouvir a TV às 8h e puder ir até ao fim do dia vai poder ouvir opiniões diversas. São naturais, saudáveis, mas esse debate gera muitas vezes confusão nas pessoas. E o decisor deve decidir com base científica, mas essa decisão deve ser tão consensual quanto possível", concluiu, num evidente recado aos cientistas que têm marcado presença nas sessões do Infarmed.
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