“Eu quero de uma vez por todas sentir-me legitimado para cumprir o meu mandato”. Aos poucos minutos de entrevista à TVI, Francisco Rodrigues dos Santos, acabado de sair de um Conselho Nacional que tirou qualquer dúvida que restasse sobre as fraturas internas no CDS, explicou o que lhe está a faltar - e a falhar. Nas palavras do presidente do partido: união, capacidade para “arrumar a casa” e para fechar as “querelas internas” que impedem o partido de “singrar” lá fora.
“A minha vitória ocorreu há um ano. Não fui entronizado pelos notáveis do partido, mas pelas bases e pelo povo do CDS”, começou por explicar. A fratura essencial no CDS é essa: o antigo líder da Juventude Popular candidatou-se, como lembrou esta segunda-feira na TVI, contra os ‘barões’ do partido - leia-se a linha de quadros que nos anos mais recentes ocupava os cargos de topo, associada a Paulo Portas - e pelas tais “bases”. Mas essa vitória em congresso, garantiu, “foi difícil de digerir para algumas franjas no CDS” - as mesmas que o desafiaram este fim de semana num Conselho Nacional de que saiu com uma vitória curta (54%), mas que disse ser “suficiente, claro”, e promessas de pacificação.
O líder fez o seu diagnóstico: o CDS é uma “instituição dividida” e a sua liderança é sabotada pela tal parte do partido que não o aceita enquanto líder. Exemplos: o “ambiente público intoxicado” pelas “querelas” e até por “fontes em off” vindas do interior do partido. Resultado: o CDS não consegue “singrar lá fora” e passar as suas ideias, por um lado, nem apresentar as caras da renovação por que já prometia puxar no congresso de há um ano, por outro: “Eu tenho gente altamente qualificada comigo, na minha direção, mas que não tem tido as mesmas armas para projetar a sua mensagem”, indignou-se. Acresce a isto um outro fator: o “cisma juvenil” que em Portugal dita que haja uma “desconfiança crónica” relativamente aos jovens, garantiu o líder de 32 anos (eleito com 31).
No meio de tudo isto, pouco espaço sobra para apresentar as ideias e bandeiras do partido, defendeu. Foi isso que tentou fazer, acelerando para apresentar causas nas mais diferentes áreas (“vejo que veio com a pedalada toda”, admirou-se Miguel Sousa Tavares; “vim do Colégio Militare”, justificou o democrata-cristão), enumerando bandeiras que foram da liberdade de escolha dos utentes na educação e na saúde ao combate contra a corrupção, numa tentativa de fazer também um “discurso intergeracional” que apelasse aos jovens e aos mais idosos, criticando a eutanásia e propondo pelo caminho a limitação de mandatos para os deputados.
Em poucos minutos e com a memória bem fresca de um Conselho Nacional fraturante, não foi fácil. Questionado sobre se poderá deixar a liderança caso os resultados das eleições autárquicas sejam fracos, garantiu estar “circunstancialmente” na política e não se resumir a “um betinho do CDS”. “Estou dependente da minha consciência e dos meus valores e se eu entender a qualquer altura que resultados não são satisfatórios, sou o primeiro a ir-me embora. Estou completamente solto e completamente livre”, assegurou. Nessa altura, poderá não haver um partido para passar ao próximo? “Claro que não! Mas alguém acredita que o CDS está morto? Não morre porque tem alma”. Os próximos resultados eleitorais ajudarão a comprovar se tem razão.
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