Política

Direção do CDS balança mas não cai: moção de confiança aprovada com 54% dos votos

Francisco Rodrigues dos Santos discursa no Congresso do CDS
Francisco Rodrigues dos Santos discursa no Congresso do CDS
RUI DUARTE SILVA

Francisco Rodrigues dos Santos segura a liderança num Conselho Nacional duro. Adolfo Mesquita Nunes e os seus apoiantes saem da reunião com um amargo de boca, mas convictos de que a direção está cada vez mais fragilizada

Chegou ao fim o longo Conselho Nacional do CDS em que a direção de Francisco Rodrigues dos Santos foi a exame. Já por volta das 4h15 deste domingo foram revelados os resultados e, apesar da curta margem, a Comissão Política Nacional superou o teste.

De acordo com os dados oficiais divulgados pela Mesa do Conselho Nacional, dos 265 votantes, 144 decidiram renovar a confiança na direção dos democratas-cristãos, 113 votaram contra e oito conselheiros nacionais optaram pela abstenção.

Em termos ponderados, 54,4% dos votos foram a favor da manutenção de Rodrigues dos Santos ao leme do partido, 42,6% visaram a queda da direção e 3% não foram num sentido nem noutro.

No rescaldo da vitória - confirmada ao fim de 16 horas de discussão que começou à porta fechada, mas acabou por ser transmitida aos jornalistas na sede do partido -, o líder sublinhou que o Conselho Nacional foi "muito vivo" e "profundamente democrático" e deixou recados aos que consideram o CDS é "irrelevante" ou que "está a definhar".

Rodrigues dos Santos disse estar "certo de que muito há a melhorar, a construir, a definir e a trabalhar", mas expressou o desejo de que todos saibam "contribuir para afirmar a alternativa política" para o país. "Não é o CDS que está em crise, é o país que está em crise", continuou, antes de apelar a que o partido "possa finalmente beneficiar de um clima de paz" (sem "querelas internas").

Procurando já mobilizar as tropas para as autárquicas, nas quais quer manter as seis câmaras em que o partido é poder e reforçar o número de mandatos em todo o território nacional, assegurou querer encontrar-se "brevemente" com o dirigente que o desafiou, Adolfo Mesquita Nunes, para, juntos, prepararem o futuro do CDS.

Já em declarações aos jornalistas, no Largo do Caldas, em Lisboa, onde fica a sede do CDS, vincou que a "clarificação está dada" e que saía do Conselho Nacional "presidente de todos os militantes". No entanto, voltou a recusar abraçar o repto do challenger para ser candidato à Câmara Municipal de Lisboa: "O CDS não é um partido de um homem só.”

Quanto a Mesquita Nunes, que chegou a abandonar a reunião - por recusar participar na "ilegalidade" de uma votação que não fosse realizada secretamente -, recorreu ao Facebook para reagir à derrota.

Mesquita Nunes desdramatiza derrota

"Fiz aquilo que a consciência me ditava: alertar o partido para uma crise de sobrevivência. O Conselho Nacional entendeu de forma distinta. Está no seu mais legítimo direito. Como é evidente, respeito o resultado, assim como a avaliação positiva que o Conselho Nacional faz desta direção e da sua estratégia", escreveu o antigo secretário de Estado do Turismo, poucos minutos depois de serem revelados os resultados.

Numa leitura rápida destes dias de convulsão interna, frisou que estava ciente "desde o começo que o Conselho Nacional era, por natureza e pela sua presente exiguidade, o mais difícil órgão para apresentar uma proposta de marcação de Congresso", mas vincou que foi esse o método que escolheu para "poder respeitar as regras estatutárias".

"Quero agradecer a todos os que acreditaram na mudança e que ela seria possível. O nosso resultado, que tantos diziam impossível por conta das inerências, fica a dever-lhes muito. Não tenho palavras para agradecer a motivação, o empenho e esperança que me emprestaram, e que explicam tanto do meu dever de militância", acrescentou.

A rematar, fez um apelo de mobilização aos seus fiéis, que em privado, apurou o Expresso, fez questão de reiterar: "Agora há eleições autárquicas e nelas estarei empenhado, na minha terra."

De facto, o triunfo pouco folgado de Rodrigues dos Santos anima os apoiantes de Mesquita Nunes. Sob anonimato, alguns confidenciam ao Expresso que este foi só o primeiro round do combate. E não escondem que foi um desaire que pode fragilizar ainda mais a direção. O tira-teimas, esperam, fica marcado para depois das autárquicas.

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