Política

Marcelo: “A minha ideia não é que o Governo caia. É que o Governo responda à crise”

Marcelo: “A minha ideia não é que o Governo caia. É que o Governo responda à crise”

Presidente da República foi ao "Isto é gozar com quem trabalha" afastar cenários de queda do Governo, quando começa a ser pressionado a encarar essa hipótese

Marcelo Rebelo de Sousa escolheu o humorista Ricardo Araújo Pereira para dar a primeira entrevista do seu segundo mandato e aproveitou a oportunidade para responder aos que já lhe começam a pedir que demita o Governo: "A minha ideia não é que o Governo caia, é que o Governo responda à crise, que enfrente a pandemia".

Sem se comprometer com um rotundo 'não' ao eventual uso da bomba atómica - dissolução do Parlamento e queda do Governo - durante este novo ciclo em Belém, Marcelo deixou teoria sobre o assunto. “A bomba atómica utiliza-se uma vez, em casos extremos, porque tem efeitos destrutivos enormes. Portanto é preciso ter a garantia de que não destrói mais do que aquilo que constrói”, afirmou, apontando no mesmo sentido que sempre lhe tem sido ouvido, ou seja, que só se derrubam Governos quando há soluções alternativas. Aviso suplementar: a bomba atómica constitucional “não é para usar como ameaça”.

Na última edição do Expresso, Miguel Sousa Tavares apelava a Marcelo para que ponderasse um Governo de iniciativa presidencial para responder com eficácia à emergência nacional. Esta segunda-feira é a vez do sociólogo Manuel Villaverde Cabral defender no Observador que "Só há uma saída: o PR demitir o Governo". E Marcelo parece adivinhar que o côro tende a aumentar. A resposta, para já, é 'Não'.

À cabeceira de uma mesa gigante numa sala do palácio de Belém - o autor do programa “Isto é Gozar com Quem Trabalha”, da SIC, ficou na outra cabeceira - o Presidente da República falou do sucesso da sua relação com o primeiro-ministro, apesar de as taxas de divórcio estarem a aumentar em todo o mundo nestes tempos de confinamento.

Marcelo avançou três motivos para a manutenção do 'casamento' Belém/S. Bento. Primeiro: “Cada um vive na sua casa". Segundo: "É uma relação institucional que pode ter momentos afetivos, mas não uma relação afetiva que pode ter momentos institucionais, e, como todas as relações humanas, tem momentos bons e momentos maus, só que não os traz a público. Portanto, resolve-se”. Terceiro: “para o país”, o saldo será "positivo" já que os momentos altos serão mais frequentes e relevantes do que “alguns momentos pontuais maus”.

Um deles terá sido a propósito do ministro Eduardo Cabrita e da morte do ucraniano Ihor Homeniuk enquanto permanecia à guarda do SEF? Marcelo garante que nunca foi sua intenção “dizer que um ministro devia sair ou não”, até porque “O Presidente, na nossa Constituição, pode receber em casa um ministro e abrir a porta, mas não pode levá-lo até à porta da rua. Quem o leva até à porta da rua é o Primeiro Ministro.”

Uma deixa de Ricardo Araújo Pereira permitiu ao Presidente explicar o resto: quando os filhos eram mais novos e os colegas se deixavam ficar até tarde lá em casa, "eu utilizava uma forma mais diplomática, dizia: meninos, vamo-nos deitar que estes senhores querem-se ir embora’.”

Para que não pensem que a vida de PR é fácil, Marcelo Rebelo de Sousa quis garantir que o cargo, tal como o ocupado por António Costa, não é um mar de rosas: “São dez coisas más e uma boa”. E relatou um episódio que terá vivido com Cavaco Silva, cerca de três meses depois de o seu antecessor deixar o cargo, quando se encontraram numa cerimónia. “Estou ótimo! Nem imagina, sinto-me aliviado, saiu-me de cima dos meus ombros um peso, está a ver?”, ter-lhe-á dito Cavaco Silva. "É o peso que veio para cima dos meus ombros”, respondeu-lhe Marcelo Rebelo de Sousa. E assim fechou o "Isto é gozar com quem trabalha".

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: AVSilva@expresso.impresa.pt

Comentários

Assine e junte-se ao novo fórum de comentários

Conheça a opinião de outros assinantes do Expresso e as respostas dos nossos jornalistas. Exclusivo para assinantes

Já é Assinante?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate
+ Vistas