Filipe Lobo d'Ávila deixou esta quinta-feira a direção do CDS e no momento da saída traça um quadro negro para o partido. Na carta de demissão que enviou a Francisco Rodrigues dos Santos, o até aqui vice-presidente defende que os democratas-cristãos têm "um problema de afirmação externa que importa enfrentar" e sugere mesmo que, se nada for feito, o CDS caminha para a irrelevância.
"Temos que conseguir ler para além da bolha das redes sociais e dos grupos de apoio do WhatsApp. A mensagem não passa. As pessoas não nos ouvem. O CDS não é considerado. Os indicadores são trágicos. A projeção externa ou não existe ou não é boa. Infelizmente, e por muito que me custe dizê-lo, o CDS de hoje não risca", escreveu Lobo d'Ávila na missiva dirigida ao presidente centrista, à qual o Expresso teve acesso.
Realçando que ao longo do primeiro ano de mandato procurou ajudar em tudo o que estava ao seu alcance, o antigo secretário de Estado da Administração Interna explica que chegou o momento de dizer basta. "Não consegui mais. Não consigo mais. Não estou preso a lugares, presentes ou futuros. Aprendi a estar no CDS em liberdade, seguindo líderes e não presidentes", sublinha.
"Muito sinceramente, conforme te transmiti pessoalmente, não acredito que seja possível inverter este caminho, sem que nada se faça. Assobiar para o lado não é manifestamente o meu forte", avisa ainda Lobo d'Ávila, repetindo a ideia de que "não é possível assobiar para o lado". "O CDS não sobreviverá se não encontrarmos uma solução transversal e pacificadora e que nos volte a dar relevância", aponta o número dois demissionário, líder do grupo Juntos pelo Futuro (que obteve 14,45% dos votos no último Congresso).
Na carta, Ávila lança ainda uma farpa aos críticos da atual direção - e deixa um recado implícito a Nuno Melo, que esta quinta-feira, em entrevista ao "Público" e à Renascença revelou que admite ser candidato à liderança, mas apenas no ano que vem: "O CDS não tem donos. Não é nosso. Não é dos de sempre, sobretudo daqueles que ao longo deste ano tudo fizeram para que as coisas não funcionassem ou mesmo daqueles outros que se reservam agora para 2022 ou para 2030, quando já não tiverem outros afazeres."
Quanto ao seu futuro, deixa uma garantia: "Não serei candidato em 2021 nem me reservo para outros calendários".
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