Política

Polémica Procurador Europeu: Eurodeputados lançam críticas, Governo espera ter dissipado dúvidas

Ursula Von der Leyen numa minisessão plenária do Parlamento Europeu, na semana passada
Ursula Von der Leyen numa minisessão plenária do Parlamento Europeu, na semana passada

Vários eurodeputados defenderam que a recomendação do painel internacional deveria ter sido seguida e pediram esclarecimentos sobre as informações erradas dadas por Portugal durante o processo de nomeação do procurador europeu. Secretária de Estado dos Assuntos Europeus repete que "lapsos" não influenciaram a decisão final

Polémica Procurador Europeu: Eurodeputados lançam críticas, Governo espera ter dissipado dúvidas

Susana Frexes

Correspondente em Bruxelas

Das bancadas do Partido Popular Europeu, Liberais e Verdes ouviram-se duras críticas às nomeações de Portugal, Bulgária e Bélgica para a Procuradoria Europeia, enquanto os eurodeputados do PS saíam em defesa do Governo português, em parte apoiados por Bloco de Esquerda e PCP.

O Conselho da UE decidiu as nomeações em julho, mas só esta quarta-feira é que o Parlamento Europeu levou o assunto a plenário, depois de se conhecer a nota com erros preparada pelos serviços do Ministério da Justiça para justificar a escolha de José Guerra, primeiro classificado pelo Conselho Superior do Ministério Público, e não o de Ana Carla Almeida, preferida de um comité europeu de seleção.

Os erros são o ponto de partida, mas as críticas das três bancadas apontam também para trás, para o processo de decisão e para o facto de o Conselho ter aceitado que 3 dos 22 países participantes na Procuradoria Europeia não seguissem o parecer do júri internacional, optando por outros candidatos.

Para a holandesa Sophie in 't Veld (liberais), "não havia nenhuma razão para o Conselho se desviar dessa recomendação", acrescentando que é para isso que "existe um painel". Um argumento que esbarra no facto de o parecer deste júri internacional "não ser vinculativo", como lembrou o socialista Pedro Silva Pereira, recusando ter havido qualquer "nomeação política" e sublinhando que Portugal não foi o único país a não seguir o painel.

"A Bélgica preferiu o homem que trabalhava no gabinete do ministro que o nomeou, o Governo português deu informação falsa aos outros Estados Membros e eu achava que íamos escolher a melhor pessoa para o cargo", disse o alemão Daniel Freund (Verdes). Já a colega de bancada, a belga Saskia Bricmont, foi mais longe, sugerindo uma alteração dos estatutos para que o parecer o painel passe a ser vinculativa, de forma a acabar com as dúvidas sobre a independência da nomeação dos procuradores.

A polémica a envolver a procuradoria europeia tem-se arrastado, com trocas de acusações entre esquerda e direita, entre António Costa e Paulo Rangel, mas nenhum dos dois participou no debate em Bruxelas. Do lado do Partido Popular Europeu, a que pertencem PSD e CDS, foi Esteban González Pons a responder às acusações do primeiro-ministro. O espanhol considera que a "teoria internacional antiportuguesa" é "um disparate" próprio "de outras latitudes" (húngaras?) e que "as mentiras devem ter consequências" principalmente "quando corrompem o Estado de Direito".

A declaração fez a socialista Isabel Santos exalar-se, para o acusar de esconder "os verdadeiros urdidores da campanha de desinformação" e fez reagir também José Gusmão. O bloquista deixou críticas à ausência de Rangel e Nuno Melo do debate. "Sugiro aos deputados do PPE que estão preocupados com o Estado de Direito que olhem para a sua bancada e para o partido (húngaro) Fidesz e aos deputados portugueses do PPE que parem de fazer alianças com a extrema-direita em Portugal".

Bloco e PCP estão de acordo com a decisão do Governo de seguir a classificação do Conselho Superior do Ministério Público e com a justificação de que se trata de um "órgão independente". O problema para os dois partidos foi mais "a trapalhada grave", como lhe chamou Gusmão, a envolver a "prestação de informações falsas" sobre o percurso profissional de José Guerra. Para a comunista Sandra Pereira, o que importa agora saber é em que "documentação o Conselho (da EU) se fundamentou para nomear o procurador indicado por Portugal".

Presidência portuguesa diz que "lapsos" não influenciaram a decisão

Numa altura em que Portugal tem a presidência rotativa do Conselho, cabe aos ministros portugueses representar a instituição nos debates com o Parlamento Europeu. Neste caso, coube à Secretária de Estado Ana Paula Zacarias falar em nome do Conselho e fazer o dois em um em plenário.

Aos eurodeputados repetiu que "não houve interferência política", que a nomeação de José Guerra foi "independente" e que "os lapsos, embora lamentáveis não influenciaram a apreciação do Conselho sobre os méritos e as habilitações profissionais dos candidatos". Zacarias espera assim "ter dissipado quaisquer dúvidas face ao compromisso de Portugal com a Procuradoria Europeia".

Já na terça-feira, António Costa tinha dito no parlamento nacional que o Conselho (através de um grupo de trabalho) tinha apreciado o caso e a correção dos erros enviada pela Ministra da Justiça e que o caso tinha sido encerrado.

Vários eurodeputados ainda não se dão por convencidos e poderão voltar ao assunto a 4 de fevereiro, quando Francisca van Dunem for ouvida na Comissão de Liberdades Cívicas e da Justiça do Parlamento Europeu, uma audição no âmbito da presidência que está ainda por confirmar.

Esta quarta feira, chegou também a resposta da provedora de justiça europeia à queixa feita pelo eurodeptuado do CDS, Nuno Melo, sobre a polémica. Na carta, divulgada à imprensa, Emily O'Reilly diz que considera o assunto "preocupante" mas adianta que para já nada pode fazer. Primeiro, o eurodeputado terá de tentar resolver o problema com o Conselho.

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