Mayan acusa Marcelo de “silêncio” no caso SEF: “Não faria diferente hoje”, responde o PR
PEDRO PINA
Candidato liberal foi firme nas acusações ao Presidente da República de cumplicidade com o Governo no frente a frente deste domingo. Marcelo Rebelo de Sousa viu-se obrigado a justificar a não recondução de Joana Marques Vidal, as sucessivas renovações do estado de emergência, assim como o facto de não ter contactado a viúva do cidadão ucraniano morto no SEF. “Não faria diferente hoje”, garantiu. Chefe de Estado manifestou-se preocupado com o alívio das restrições no Natal
No debate entre Marcelo Rebelo de Sousa e Tiago Mayan Gonçalves, na RTP1, o candidato liberal até agora desconhecido pela maioria dos portugueses, começou ao ataque. E foi eficaz ao pegar no ponto forte do Presidente da República: a sua popularidade. "O que move o senhor Presidente é a sua popularidade. É isso que o põe sempre ao lado do Governo, exceto quando sente a sua popularidade ser ameaçada", atirou o candidato a Belém apoiado pela Iniciativa Liberal (IL).
A estratégia obrigou o Presidente da República a demarcar-se do Governo, garantindo que zelou sempre pela estabilidade governativa e que nunca houve uma crise, nem "no caso mais flagrante" dos incêndios de 2017 para se interromper a legislatura. "Uma coisa é estar com o Governo e outra é estar com portugueses, eu estive com os portugueses. Vetei mais diplomas do Governo do que todos os Presidentes, tirando o Presidente Eanes no primeiro mandato", justificou.
Marcelo admitiu estar preocupado com o alívio das restrições no Natal e a situação nos lares, sublinhando que será necessário avaliar os últimos dados epidemiológicos na reunião com especialistas no próximo dia 12, antes de uma nova renovação do estado de emergência. "A sensação que eu tenho é que houve um laxismo também agora, sobretudo hoje, mais do que ontem e nos dias anteriores. E, isso, obriga a que uma renovação seguinte seja uma renovação atenta a essa evolução da situação", disse.
PEDRO PINA
Na segunda metade do debate deixou a defensiva para questionar o candidato liberal sobre que leis teria vetado caso fosse Presidente da República, algo que Tiago Mayan Gonçalves teve dificuldade em responder. "Quando se trata das suas ideias já viu como é vago?", retorquiu o candidato apoiado pelo PSD e CDS. Entretanto, Mayan apontou a lei que permite a eleição indireta dos presidentes das Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR), classificando-a como "simulacro de democracia". Marcelo justificou-se com a necessidade de "descentralização"
Mayan Gonçalves insistiu no argumento, acusando Marcelo de se ter colocado na "posição de propagandista" do Executivo ao não ter reconduzido Joana Marques Vidal no cargo de Procuradora Geral da República, ao colocar-se ao lado da ministra da Saúde assegurando que haveria vacinas da gripe para todos os portugueses ou pelo "pacto de silêncio" no caso da morte do cidadão ucraniano no SEF.
O chefe de Estado voltou a apostar nas mesmas justificações, que o mandato da procuradora era "único" e que isso foi assumido desde o início por Joana Marques Vidal; em relação à vacina da gripe que se apoiou nas garantias dadas por Marta Temido e que sempre assumiu com "máxima responsabilidade" a gestão da pandemia.
Já em relação ao caso do currículo do Procurador José Guerra que o Ministério da Justiça enviou para Bruxelas, Marcelo considerou à semelhança do debate de ontem com Marisa Matias, que se trata de um "desleixo lamentável" e que o caso tem que ser "apurado".
Confrontado sobre a morte do cidadão ucraniano nas instalações do SEF no aeroporto de Lisboa, Marcelo insistiu também que falou sobre o caso em abril, mas que optou por não falar com a viúva de Ihor Homeniuk por estar a decorrer um processo criminal e que não lhe cabia "antecipar um juízo do Estado português". "Não faria diferente hoje", garantiu.
Sobre o estado de emergência, que tem sido alvo de duras críticas por parte da Iniciativa Liberal, Mayan Gonçalves reafirmou que este instrumento legal não seria necessário para travar a pandemia e que só por "preconceito ideológico" não se recorreu aos serviços privados da Saúde logo em março. "O que seria o saldo em termos de mortes não havendo estado de emergência e a mobilização de meios que isso permitiu? É muito fácil avançar com ideias do estado liberal, o sonho a utopia e votar contra o estado de emergência", observou Marcelo.
Por último, questionado sobre o que o diferenciou face ao seu antecessor, Cavaco Silva, o Presidente da República apontou as diferenças da conjuntura dos incêndios que assolaram o centro do país, em 2017, da crise bancária e da atual pandemia, mas elogiou as "respostas muito positivas" à crise anterior da troika. Já Tiago Mayan Gonçalves considerou Ramalho Eanes como o "referencial ético de desempenho" das funções presidenciais.