O que é que os eleitores de esquerda vão pensar de um partido que se levanta, durante a votação do Orçamento, para votar contra ao lado da direita? De um partido que “deserta” da negociação orçamental num momento de crise profunda? As respostas, só o tempo as dará. As perguntas, mais ou menos justas, foram feitas e repetidas de forma insistente pelo Governo durante o primeiro dia de debate orçamental, com um objetivo claro: colar ao Bloco de Esquerda a imagem de partido irresponsável, que não quis negociar num momento crucial e que “deitou a toalha ao chão”. O Bloco ripostou como pôde perante o leque de tiros socialistas: voltou à guerra de números sobre o Serviço Nacional de Saúde e sobre a nova prestação social e acusou o Governo de uma "deserção sistemática" para "se juntar à direita" nas leis do trabalho. Tudo para dizer que vota contra um "orçamento de estagnação" que pode levar o Serviço Nacional de Saúde a "falhar ao país". Se o argumento passa, o BE espera para ver o que a "realidade" irá mostrar.
Dois dias depois de o Bloco de Esquerda ter confirmado que votará contra a proposta de Orçamento do Governo, os socialistas afinaram o alvo e dispararam. Logo no início do debate, António Costa - de gravata e máscara vermelhas muito de esquerda, porque o simbolismo conta - esforçou-se por evidenciar um Bloco de Esquerda isolado (outros partidos acabaram por ajudá-lo na tarefa) e, mais importante, numa posição de intransigência difícil de compreender: foi assim quando acusou os bloquistas de se “juntarem à direita que marcha em sentido oposto” ao da 'geringonça' e quando logo de seguida elogiou as posições “claras e coerentes” dos partidos que viabilizam este Orçamento. Fê-lo partido a partido, nome a nome até, incluindo no lote as deputadas não inscritas que saíram do Livre e do PAN. A ideia era clara: o Bloco ficava do outro lado do muro, a fazer companhia aos partidos da direita.
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