A bastonária da Ordem dos Enfermeiros, Ana Rita Cavaco, acusa o Governo de não ter uma estratégia para a época do Outono-Inverno, criticando aquilo que considera serem "medidas avulsas" no sector
"Não faz sentido não haver uma estratégia, foi isso que dissemos ao sr. Presidente, que o plano de outono-inverno e muito bom no papel, mas neste momento falta operacionalização", afirmou Ana Rita Cavaco em declarações aos jornalistas à saída de uma audiência em Belém.
Para a representante dos enfermeiros, não é possível que passados oito meses do começo da pandemia, o Governo não tenha preparado com antecedência as medidas para esta altura do ano, sublinhando que vários "centros de saúde estavam sem vacinas" quando começou a época da vacinação contra a gripe sazonal. "Não basta o Governo dizer que há vacinas para todos, ontem vimos que as vacinas que chegaram aos centros de saúde não chegam", reforçou.
Ana Rita Cavaco adiantou ainda que teve oportunidade de manifestar o seu descontentamento face ao Orçamento do Estado para 2021, considerando que os enfermeiros não são reconhecidos como uma "profissão de risco e de desgaste rápido" e que o subsídio previsto para os profissionais que se encontram na linha da frente do combate à Covid-19 é insuficiente. Uma crítica que ontem já tinha sida feita pelo bastonário da Ordem dos Médicos.
"Os enfermeiros estão cansados, desmotivados e fartos de promessas vãs. Não vem no Orçamento nenhum acréscimo ao risco e desgaste rápido da profissão. Não há linha da frente, nem de trás, nem do meio, são todos os que estão a enfrentar os serviços Covid e não Covid", acusou.
De acordo com a bastonária, há ainda outra série de questões a clarificar pela tutela, nomeadamente a questão da idade da reforma e o descongelamento da carreira, sendo vitais mais incentivos para os enfermeiros que emigraram regressarem ao país através de contratos por tempo indeterminado.
"Temos 20 mil enfermeiros emigrados no estrangeiro que se não lhe derem condições contratuais para voltar, e não são seguramente quatro meses para contratos agora na pandemia. Se não daqui a dois ou três anos vão ser precisos quantos para os milhares de consultas e cirurgias que foram adiadas?", questionou.
Esta quarta-feira, Marcelo Rebelo de Sousa vai ainda reunir-se com a bastonária da Ordem dos Farmacêuticos, Ana Paula Martins, no âmbito das audiências que tem agendadas com especialistas e instituições da Saúde e de outras áreas para uma "reflexão geral" e "concentrada" sobre a pandemia.
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