O Governo não se alarga em comentários em relação aos vários dossiês, relacionados com a China, sobre os quais o embaixador norte-americano ameaçou Portugal na entrevista ao Expresso deste sábado. O ministro dos Negócios Estrangeiros reage a sacudir a pressão para dizer que quem manda nos assuntos portugueses não são os Estados Unidos: "Em Portugal as decisões são tomadas pelas autoridadades portuguesas competentes" - diz ao Expresso Augusto Santos Silva - "nos termos da Constituição e da lei portuguesa, e de acordo com os valores nacionais com a concertação no seio da União Europeia quando pertinente e com o sistema de alianças em que nos integramos".
George Glass, o embaixador dos Estados Unidos em Portugal - que não é um diplomata de carreira mas nomeado politicamente por Donald Trump - deixou avisos em tom pouco diplomático na entrevista ao Expresso, onde assume que Portugal é, neste momento, um dos "campos de batalha" da nova Guerra Fria entre os EUA e a China. Empresário do Oregon há três anos em Lisboa, Glass disse que Portugal “tem de escolher agora” entre o aliado ou o parceiro comercial, EUA ou China, isto quando se aproxima o leilão para a tecnologia 5G, que deverá ter lugar em outubro - e uma semana antes da visita a Lisboa do subsecretário da Economia norte-americano Keith Krach.
A entrada da Huawei nas redes de telecomunicações em todo o mundo é uma preocupação dos americanos, por temerem que as empresas chinesas usem os dados para espionagem. "Não podem trabalhar com a China", pressionou o embaixador, num momento-chave do processo, em que o Ministério das Infraestruturas está a ultimar, com os reguladores, as regras do leilão. E ameaçou Portugal com mudanças na relação nas áreas da segurança, defesa e troca de informações, o que poderia ter implicações a nível político no caso de os chineses estarem presentes nas telecomunicações.
Mas o 5G não foi o único tema em que a administração norte-americana mostrou uma posição dura: a entrada da construtora chinesa CCCC na Mota-Engil pode dar lugar a sanções contra a empresa, admitiu Glass ao Expresso. E se os chineses ganharem o concurso para o segundo terminal de Sines, o destino no gás natural liquefeito norte-americano será diferente.
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