Política

Chineses tranquilos: "Portugal tem manobrado bem a pressão dos americanos"

Chineses tranquilos: "Portugal tem manobrado bem a pressão dos americanos"
Nawadoln Siributr / Getty Images

Y Ping Chow, presidente da Liga dos Chineses, sublinha que a pressão dos EUA não é nova e tem vindo a repetir-se um pouco por todo o mundo. A novidade, diz "é que perderam totalmente a vergonha e já nem escondem o jogo"

"A pressão americana contra a China não é uma novidade e tem vindo a acentuar-se à escala global. Mas no caso português, estamos confiantes na reação do Governo e acreditamos que o país continuará a agir com bom senso", diz ao Expresso Y Ping Chow, presidente da Câmara de Comércio Portugal-China PME e da Liga dos Chineses em Portugal.

Numa entrevista publicada na edição do Expresso deste sábado, George Glass, o embaixador dos Estados Unidos em Lisboa, avisa que Portugal tem de escolher agora” entre o aliado ou o parceiro comercial, EUA ou China. Y Ping Chow vê neste novo campo de batalha da guerra fria entre os EUA e a China apenas "a continuidade" da estratégia seguida pela diplomacia americana no mundo e na Europa em especial, com destaque para o Reino Unido e a França, mas também para a Alemanha, país onde vê sinais de "maior resistência a esta pressão dos EUA.

O que pode surpreender nesta mensagem direta ao Governo luso, quando se aproxima o leilão para a tecnologia 5G, que deverá ter lugar em outubro - e uma semana antes da visita a Lisboa do subsecretário da Economia norte-americano Keith Krach, será mais "a atenção dada a um país pequeno que na verdade nunca interessou muito aos EUA", comenta o homem que tem sido o rosto da ligação entre Lisboa e Pequim e porta - voz da comunidade chinesa em Portugal, onde contabiliza "uns 35 mil chineses", entre cidadãos com autorização de residência e cidadãos já naturalizados.

Chegou ao Porto com 7 anos, em 1962, mas o seu avô já andava por cá desde 1934, e terá sido um dos primeiros imigrantes chineses no país, por isso conhece bem Portugal e confia "em absoluto na capacidade do governo saber escolher o caminho certo". "Portugal tem manobrado bem a pressão dos americanos", sublinha.

Acredita que este "é um país amigo", onde os chineses poderão continuar a viver e a negociar "com tranquilidade". E coloca Portugal no grupo de países que "sabem resistir melhor a este tipo de pressões made in USA", desde logo pela primeira reação do ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, também ao Expresso, a sacudir a pressão e a dizer que quem manda nos assuntos portugueses não são os Estados Unidos: "Em Portugal as decisões são tomadas pelas autoridades portuguesas competentes, nos termos da Constituição e da lei portuguesa, e de acordo com os valores nacionais com a concertação no seio da União Europeia quando pertinente e com o sistema de alianças em que nos integramos", afirma Santos Silva.

No que acontece neste momento, Chow vê mais do que tudo um sinal de que "os americanos perderam totalmente a vergonha e já nem escondem o jogo que noutros tempo teria sido feito de forma mais bem discreta, nos bastidores da política".

E numa declaração final deixa claro a sua posição nesta questão para marcar a diferença: "Confiamos na longa história da amizade Portugal - China e não vamos estar a preocupar-nos com as palavras do embaixador. Sabemos que não nos cabe, a nós, definir a política do governo português".

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: mmcardoso@expresso.impresa.pt

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