Política

Um piscar de olho ao BE, uma 'nega' do PCP: foi assim o aquecimento para as reuniões à esquerda

O chumbo do PCP traz um mau prenúncio para as próximas negociações
O chumbo do PCP traz um mau prenúncio para as próximas negociações
Marcos Borga

Em véspera de ronda negocial, o Governo respondeu a uma exigência de Catarina Martins e viu o PCP desmarcar uma reunião. Dois sinais contrários que traçam as posições iniciais que os partidos estão a assumir na negociação do Orçamento do Estado

Um piscar de olho ao BE, uma 'nega' do PCP: foi assim o aquecimento para as reuniões à esquerda

Liliana Valente

Coordenadora de Política

Amanhã começa o jogo, hoje foi dia de aquecimento. Nas vésperas do arranque de uma ronda de negociações sobre o Orçamento do Estado para 2021, dois sinais contrários confirmaram as posições que os partidos se preparam para assumir neste processo. Do lado do Bloco de Esquerda, uma mostra de boa vontade do Governo que há muito era reclamada pelo partido; no PCP, um anúncio que confirma, pelo menos, a intenção de se dissociar da antiga solução à esquerda e de tomar para si o papel do negociador duro.

O apito inicial tinha sido soprado por Catarina Martins quando, este fim de semana, impôs pré-condições para a negociação. Na perspetiva do Bloco, não faria sentido começar as conversações para definir o Orçamento de 2021 quando ainda nem sequer estão garantidas as medidas aprovadas no Orçamento de 2020. A saber: o fim do fator de sustentabilidade que penaliza as reformas dos trabalhadores de profissões de desgaste rápido - medida que escolheu destacar, num encontro com pedreiros -, mas também a redução do IVA da eletricidade e a contratação de mais profissionais para o SNS.

Se, com mais ou menos precisão, o Governo já se tinha ocupado de garantir que estes dois últimos aspetos serão tratados, esta quinta-feira - escassos quatro dias depois das declarações da coordenadora bloquista - arrumou o assunto que faltava. Depois do Conselho de Ministros, uma boa nova para o Bloco: também o fator de sustentabilidade deixará mesmo de ser aplicado às profissões de desgaste rápido.

A novidade foi dada sem que fosse apresentada justificação para o timing da decisão, mas o timing é tudo. Com isto, o Governo fez uma espécie de prova de boa fé para com os bloquistas e aprovou, meses depois, a medida que tinha ficado inscrita no Orçamento do Estado, resultado de negociações com o partido de Catarina Martins. Quando questionada sobre o porquê de a medida ter sido tomada agora, a ministra de Estado e da Presidência apenas respondeu que “este ano não foi um ano normal para nenhum de nós e também não foi para o processo legislativo”. E confirmado ficou que esta eliminação irá abranger todos os pedidos de reforma destes trabalhadores no ano de 2020: “Fica aprovado nas condições em que tinha sido negociado, de abranger o ano de 2020”, garantiu Mariana Vieira da Silva.

Não é uma garantia de que das reuniões saia algum tipo de acordo com o Bloco, mas o sinal ficou registado. Como ficou registada a mensagem que o PCP quis passar: momentos depois, o “Observador” noticiava que afinal os comunistas não se reunirão esta sexta-feira com o Governo, como estava previsto - e como o Bloco fará. Ao Expresso, fonte do partido confirmou esta informação: “Não há nada agendado por questões de calendário nosso”. Haverá encontro, ainda sem data conhecida, mas este “realizar-se-á de acordo com a agenda das duas partes” e, do lado do PCP, não é de prever que essa agenda exista antes da Festa do “Avante!”.

É na sua rentrée, marcada para 4, 5 e 6 de setembro, que os comunistas estão a apostar todas as fichas. E será a jogar em casa, na Quinta da Atalaia e não em São Bento, que o partido preferirá montar o palco para estabelecer as suas exigências relativas ao Orçamento.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: lvalente@expresso.impresa.pt

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