Política

Deputados que fiscalizam transparência não vêem conflitos de interesses em deputados alvo de queixa

Deputados que fiscalizam transparência não vêem conflitos de interesses em deputados alvo de queixa
Marcos Borga

O texto do parecer foi aprovado esta quarta-feira com os votos a favor do PS, PSD, CDS e BE, e apenas com o voto contra do PAN. O PCP não esteve representado na reunião da comissão

Deputados que fiscalizam transparência não vêem conflitos de interesses em deputados alvo de queixa

Liliana Coelho

Jornalista

Os deputados dos PSD António Topa, Paulo Rios de Oliveira e Emídio Guerreiro, o socialista Pedro Coimbra e André Ventura do Chega, foram alvo de uma denúncia sobre "abundantes conflitos de interesses" feita a Ferro Rodrigues por um grupo de cidadãos, que inclui dois ex-candidatos a Belém e o presidente da Associação Transparência e Integridade. Esta quarta-feira, a Comissão de Transparência e Estatuto dos Deputados considerou, contudo, que não há motivo para alarme.

Numa resposta ao presidente da Assembleia da República, na sequência de um despacho do passado dia 6 de julho, a comissão reconheceu esta quarta-feira que as atividades dos deputados mencionadas pelos autores da missiva estão corretas, mas "tais atividades, nos termos declarados pelos deputados em causa não contendem nem com o regime de incompatibilidades nem com o dos impedimentos aplicável a quem não exerce o mandato em regime de exclusividade".

Entende por isso a comissão presidida pelo deputado Jorge Lacão (PS) que "à luz dos seus registos de interesses", os deputados em causa estão a exercer o respetivo mandato em "condições de regularidade" e nada na lei "lhes diminui a capacidade de exercício pleno do cargo".

Mais: a comissão sublinha ainda que estão cumpridas as regras de transparência, uma vez que as funções referidas na carta constam do registo de interesses dos deputados, sendo que a "declaração pontual" sobre uma eventual situação dessas verificado no decurso dos trabalhos só é exigível quando ocorre uma "situação de eventual interesse particular não previamente declarado no respetivo registo público".

PAN isolado contra parecer da comissão

O texto do parecer foi aprovado hoje com os votos a favor do PS, PSD, CDS e BE, e apenas com o voto contra do PAN. O PCP não esteve representado na reunião da comissão.

Ao Expresso, o porta-voz do PAN André Silva manifesta-se contra a decisão da comissão, considerando que era essencial ir além dos formalismos jurídicos e avaliar questões éticas dos deputados. "Foi uma resposta meramente formalista. É certo que não há incumprimento do ponto de vista jurídico-legal por parte dos deputados em causa, mas devem ser refletidos outros aspetos face à sua participação em comissões", defende o deputado do PAN.

André Silva dá como exemplo outro caso que considera "flagrante" de um deputado na anterior legislatura que colaborava com um escritório de advogados dedicado a vistos gold e que foi autor de uma relatório sobre um projeto de lei nesse âmbito."Para nós está em causa um assunto demasiado sério e seria sensato ir mais além na análise de eventuais conflitos de interesses", acrescenta.

Alertas para casos de deputados do PS, PSD e Chega

A missiva que contava entre os signatários os ex-candidatos a Belém Paulo Morais e Henrique Neto alertava para os casos de António Topa (PSD), presidente da Comissão de Economia, Inovação, Obras Públicas e Habitação, que tem "interesses" em empresas da área do imobiliário, como a Epifei e a Tocortal e Emídio Guerreiro (PSD), que integra a mesma comissão e é dirigente da construtora Garcia, Garcia, SA e Pedro Coimbra (PS), que é sócio-gerente da empresa Delta e também integra a mesma comissão.

A missiva apontava ainda para os casos do deputado Paulo Rios de Oliveira (PSD), membro efetivo da Comissão de Comunicação e Cultura, que é sócio da empresa Campo Grande, Comunicação e Marketing e de André Ventura (Chega), membro da Comissão de Orçamento e Finanças, e que trabalhava para a consultora Finpartner. Entretanto, Ventura informou, no passado dia 3 de julho, os serviços da AR de que passava a ser deputado em regime de exclusividade.

Entre os signatários da missiva encontram-se também o presidente da Associação Transparência e Integridade, João Paulo Batalha, o presidente do Observatório de Economia e Gestão de Fraude, Óscar Afonso, e Mário Frota, da Associação Portuguesa de Direito do Consumo.

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