Política

Centeno e o Novo Banco. Arrepende-se? “A resposta é fácil e é não”

O ministro das Finanças, Mário Centeno, acabará por ter de tomar medidas desagradáveis mais para a frente
O ministro das Finanças, Mário Centeno, acabará por ter de tomar medidas desagradáveis mais para a frente
PATRÍCIA DE MELO MOREIRA/EPA

O ex-ministro das Finanças diz que o sistema financeiro está mais robusto, mas que “não se pode dar nada como definitivo”. Centeno sai, mas quer defender o seu legado

Centeno e o Novo Banco. Arrepende-se? “A resposta é fácil e é não”

Liliana Valente

Coordenadora de Política

Mário Centeno deixou esta semana de ser ministro das Finanças e, um dia depois de o novo ministro defender o Orçamento Suplementar na Assembleia da República, aparece em entrevista ao site do PS para dizer que não se arrepende do que fez no cargo, no que ao Novo Banco diz respeito. Para Centeno, o processo do Novo Banco foi "muito longo" e "politicamente difícil". "Poderíamos fazer sempre qualquer coisa diferente [no Novo Banco]. Se eu me arrependi de alguma coisa que tenha feito? A resposta é fácil e é não", disse no podcast Política com Palavra, do PS.

A declaração de Centeno ocorre na mesma semana em que o sucessor João Leão apontou baterias à gestão de António Ramalho, dizendo que ficou "estupefacto" com as declarações do banqueiro, que admitiu voltar a pedir ajuda ao Estado, além do que está contratado. O Governo garantiu que não está prevista nova injecção no Novo Banco, mas o banqueiro acena com uma frase que está na autorização de Bruxelas, negociada por Centeno, que diz que em circunstâncias muito graves o NB pode recorrer de novo ao Estado.

Centeno prefere não entrar em detalhes sobre esse assunto e admite que, à luz da informação de hoje, poderia haver coisas diferentes. "Se com o que eu sei hoje podia ter feito alguma coisa diferente? Hoje tenho muito mais informação e se calhar sim. Mas, honestamente, com a informação que existia e as restrições que existiam naquela altura não poderíamos ter feito muito diferente daquilo que fizemos. E estudámos todas as alternativas", disse em resposta ao jornalista Filipe Santos Costa.

O Novo Banco foi um dos pontos quentes do mandato de Centeno, tal como a resolução do Banif - que foi "o momento mais difícil" -, mas também a capitalização da CGD, que, para o ex-governante, "foi o que determinou a superestrutura do sistema financeiro e bancário em Portugal e catapultou todo o processo de reforço dos capitais de todos os bancos". Acaba por admitir que "o sistema financeiro hoje, se comparado com o de 2015", está muito mais robusto. "Mas também temos de ter a noção de que a crise de 2010/11 e a crise pandémica que hoje sofremos mostram como não podemos dar nada como definitivo", disse.

Sobre o seu futuro, o ex-ministro foge a sete pés. Não fala da possibilidade Banco de Portugal nem do seu sucessor. Diz apenas que "é muito importante que neste momento saibamos reagir ao que nos está a acontecer. E a verdade é que nos preparámos", acredita.

Contudo, não tem dúvidas que tem de ser dinheiro público a fazer circular a economia, até porque as crises passadas nos mostram que esse é o caminho. "Precisamos do Estado, o Estado é o garante da liquidez de toda a sociedade, quando o Estado falha na sua liquidez, como falhou em 2011, tudo se desmorona. É preciso que o Estado mantenha essa capacidade", defende.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: lvalente@expresso.impresa.pt

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